terça-feira, 30 de outubro de 2012

não resignar cansa

não sou de me resignar, nunca fui. mas diz-se, por aí, que aceitar o que nos acontece é bom e que será o primeiro passo para reverter, para ultrapassar. aceitar que o mau em aceitação é uma literal tradução do bom por vir, apenas por vir por aceitação do mau, não me faz grande sentido. mas fará, alguma vez, o que é mau, sentido além de ser profundamente sentido? hoje acordei confusa. e com fuso horário também. às 18h já estou a morrer de sono e às 5h começa a dar-me comichão para os cornos se levantarem da palha. há uns dias que é assim. penso que será cansaço de lutar tanto conta a tal resignação.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ai mamma Mia, que Couto de beleza!

o que o anima, ao Mia Couto, enquanto escritor, é ensinar a sua escrita a dançar, dar ancas às consoantes, devolver seios às vogais e, enfim, reinventar sensualidades que foram sendo roubadas pela cega obediência às normas da gramática.


a miséria dos filhos que herdam dos pais

nunca precisei de provas científicas para ter a certeza disto. mas já que as há, melhor:

Susan Greenfield, cientista da universidade de Oxford, garante que "o uso excessivo da net provoca alterações no cérebro das crianças e adolescentes: não compreendem a linguagem corporal nem o tom de voz com que uma pessoa diz alguma coisa."

o mesmo se aplica ao uso dos videojogos. ou seja, faz falta a bola ou a corda ou o pião; faz falta a cultura da conversa e do livro; faz falta pais que em vez de estarem com os filhos estão na net. que miséria.

domingo, 28 de outubro de 2012

80ção: menu domingo gordo, por favor.


nunca mais fiquei em hotéis. há uns doze anos que não piso um hotel. por um lado não será um bom sinal por querer dizer que nunca mais fiz férias afastada de casa. mas por outro, é uma excelente notícia - em jeito de balanço - para mim: significa que, por não me sentir bem com companhias que não sejam excelentes, nunca me rendi - sequer vacilei - a fracas companhias. talvez há dez anos tive, em trabalho, de pernoitar em uma estalagem em Castelo Branco, na altura faziamos um trabalho para a REFER, e foi um grande sacrifício porque o Mário, na altura o meu patrão, uma empresa unipessoal, que ficou no quarto ao lado do meu, começou a dar batidinhas na parede como se em código para saltar para a minha cama. assustada com a repetição durante uma boa parte da noite com o tal código, o que fiz foi ignorar ao mesmo tempo que descarreguei o autoclismo vezes sem conta até ele perceber onde eu queria que ele fosse. e nem o pequeno almoço tomei na manhã seguinte por ter a certeza que a comida a ser comida na mesma mesa que ele e a olhar para ele me saberia a escroto. depois disso despedi-me, claro está, pela falta de confiança que nessa noite me tomou toda.

a verdade é que a única coisa que eu gosto em um hotel é o pequeno almoço. simulo muitas vezes em casa mas não sabe à mesma coisa. de qualquer modo não desisto porque logo pela manhã, uma ou outra vez, fazer diferente faz toda a diferença em um dia, em uma semana, em um mês. agora sei de um sítio onde tenho a certezinha que, não sendo hotel, sendo a 80ção, um pequeno almoço de hotel ao domingo faria as minhas delícias: ovos estrelados, regueifa para rebentar o sol do ovo e fazer a sande final em castelo como eu gosto, bacon, queijo, fiambre, bolo de chocolate, cevada, sumo de laranja. seria, assim, uma espécie de domingo gordo a começar pela manhã. porque os momentos felizes, a felicidade, são gordos.

sábado, 27 de outubro de 2012

ficar


fechados em seu tempo ao sol
e no sol que é uma flor
nuvens por cima e por debaixo
brisas fininhas em redor.
não são gentes, não,
qu'as gentes gostam do tempo a passar
são o gosto por detrás do gostar
que amam o tempo do ver com olhar
que gostam de ver o tempo a ficar

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

to bee, too be

a propósito de um episódio de ontem: to bee or not to bee chega para pensar na questão. e depois, está bem, a abelha foi-se mas ficou aquele brilho nos olhos que é único e nunca vi outro igual. ai que par de brilhos! ai que focos de luz como se fossem, e são, faróis em noite de nevoeiro! ai, arquitecto do too be, que olhar!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

cuidado: aqui há vida


o Vicente já abre bem os olhos e sorri e é notório o seu crescimento em duas mãos cheias de dias. isto faz-me pensar no quanto as crianças, enquanto vivem naquele estádio do não falar, são parecidas com os bichos: tudo se apanha pelos olhos e pelo olhar e também pelos grunhidos imperceptíveis à falta de atenção. é como se existisse, e existe, um reino de silêncio onde a coroa estivesse pousada mesmo em cima de uma e outra cabeça da comunicação não verbal. e muito se conversa neste reino. ai as conversas! a narrativa que se desenrola pelos olhos leva-nos longe mesmo quando não saímos dali - dali, daquele espaço e daquele tempo parado e frágil em que qualquer descuido pode ditar o fim da vida. e é isso mesmo que é a vida: uma narrativa de ininterruptos silêncios que é preciso constantemente interpretar; uma narrativa de interpretações que temos mesmo de cuidar. 
cuidado, olha bem para, por, mim, aqui há vida.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

aghá

que coisa curiosa. já no século dezasseis Fernão de oliveira dizia que só se deveriam escrever as letras que se pronunciam. esta função diacrítica da língua, ela é dos que a falam e não tem dono, constitui o maior argumento do arquitecto do acordo ortográfico no Brasil Evanildo Bechara.

as letras são tão bonitas. e a letra muda h é lindíssima. só de imaginar as crianças do primeiro ciclo a desconhecerem como se desenha a letra h parte-se-me o coração.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

o único soutien, sutiã é piroso que dói, que me convence




tenho a certeza absoluta de que se há cem anos, quando a Mary Jacobs trouxe esta invenção para as mamas ao mundo, eu andasse nascida e crescida e de mamas empinadas teria a mesma aversão aos soutiens como tenho hoje. falem-me em beleza ou em sedução do seu poder - mas não me venham com tretas de conforto e maravilhas de oposição à lei da gravidade. o soutien é a coisinha mais desconfortável - para quem tem realmente mamas que definem a silhueta - que há. obviamente que será um mimo bem grande para quem o usa apenas para as encher e apertar ou, pelo contrário, excesso em preocupação, para fazê-las encolher. poderá um homem, para ter uma leve ideia do que falo, imaginar-se com um nos testículos, por favor? toda a sensação de liberdade e de agilidade e exotismo desaparece. tenho, pois, obviamente, de usar em algumas situações mas evito sempre que posso e continuo solidária com a lei da gravidade em pleno: desiluda-se quem pensa que, por usar de dia e até de noite!, o soutien impede ou diminui a quebra da mama. isto que acabei agora de dizer é mais uma manobra de marketing, pois claro, para tornar imprescindível o uso deste colete de forças mamário. querem ver: será por isso que vemos tanta mulher frustrada por aí?, por não perceber da violência que atenta contra as suas próprias mamas?

bom, adiante, este é, de facto, o único soutien - por ser de diagnóstico e de uso de pouca duração - que me convence.

(talvez por ser o único que é inteligente)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

romance versus lance



enquanto a culinária se ocupa pela confecção dos alimentos, a gastronomia vai bem mais longe e abrange não só a culinária como as bebidas, os materiais usados na alimentação - e respectiva apresentação final - e todos os aspectos culturais associados como o vestuário, a música, a dança. vem daqui a diferença entre um cozinheiro e um chef gourmet (conheço um excelente, penso com os meus botões. botões não, homessa, que estou a usar um fecho. recomendo, pois, a gastronomia do Chef PTorres). e o que possuem ambos irrefutavelmente em comum? o prazer pela comida e o prazer de proporcionar prazer com a comida. 

cozinhar é, de facto, uma arte e toda a arte que se preza vem de dentro: a diferença, por exemplo, entre um arroz de pato amado e um outro mal amado reside no sabor e na apresentação da travessa. o arroz de pato amado é, como deve ser, comido pelos olhos e depois pela boca e quando está a fazer o quilo faz arrotar em verso e com cheiro a maçã verde. o mal amado, o arroz de pato que foi pulsão da pressa e da necessidade, é um arroz triste e, por isso, desenxabido e de ocasião - é um lance que nada tem que ver com o amor com que foi feito e feito, do pato, romance.

os animais são nossos amigos

até esta cobra venenosa é amiga do Homem. é, no fundo, igual, na sua natureza, ao Homem: primeiro mata e depois lá se vai à procura de resquícios de bondade. e encontra-se.

domingo, 21 de outubro de 2012

balanço positivo

aceitei, finalmente, o convite deles para uma saída ao sábado à noite. sabe bem sair com gente gira, com gira quero dizer interessante, para sítios giros - com gente que sai, não para se alienar em álcool nem para engates, para partilhar alegria e experiências com conversas e riso: faz bem.

concluo, agora, que talvez aceite mais vezes os convites. afinal, ao convidarem-me, têm muito bom gosto - assim como eu também tenho bom gosto, descobri no decorrer da noite, em sair com eles. balanço positivo.

sábado, 20 de outubro de 2012

patriotismo: força p(o)ortugueses

paradoxalmente é perante a escassez que se revela a abundância e o poortuguês, fazendo jus ao que é ser de facto rico, está mais solidário do que nunca. nunca vi tanta caridade e tanta vontade de entreajuda por cá. o poortuguês, que está sem trabalho ou que tem um salário miserável, é aquele que acrescenta mais arroz à calda e onde come um comem mais dois ou três. o poortuguês é aquele que arregaça as mangas e sai para a rua, debaixo de frio e de chuva, para levar pão e leite aos sem abrigo - donativos da padaria e da mercearia que estão esganados de impostos. o poortuguês é o que continua a fazer o assadinho dominical para reunir a família quando durante toda a semana come sopa. o poortuguês é o que vive na conta perfeita que deus fez - e o governo desfaz - e faz, bem visto, das tripas coração não fosse aí, no coração, onde está a verdadeira riqueza.



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

verdadona


era, e é, eros

tive um sonho erótico. tive um sonho poético.
o que distingue os sonhos de olhos fechados dos de olhos abertos não é, veracidade posta em causa fora de questão, a realidade. o que distingue a realidade dos sonhos do sono com os sonhos da vigília é o absoluto, espontaneidade desenfreada, não controlo da história. e acordei com o motor fragilmente tão forte a bombar: tutu-tutu-tutu-tutu-tutu; as águas rebentadas fizeram-se, até ainda há pouco, notar - assim como o inchaço das frutas como se de tão duramente maduras quisessem, e quiseram, e querem, também rebentar. os pêlos, como se a assistirem ao mais bonito bailado dos dois bailarinos (v)(d)estidos a rigor, bateram palmas erguidos de emoção como se fossem, e são, os mais fiéis observadores da vida da pele. e assim a vida nos tocou como se em dança de poesia comum. porque a intimidade que transpira na pele é poesia - a poesia, a beleza, que por detrás dos olhos se vai processando até sentir desejo incontrolável de sair.

(e lá estava a baguete com queijo derretido e oregãos. mas como era, e foi, para mim, para nós, tinha também azeitonas pretas gordas sem caroço e partidas às tirinhas e um pouco de pimenta a pintar-lhes as sardas - porque para mim, para nós, tudo tem de ser, e é, diferente. e melhor.)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

as raízes e a garrafa

que ideia, e iniciativa, tão gira esta. daqui a cem anos abre-se, e descobre-se, a memória por quem a encontrar e de quem já não se encontra. gostava de ter participado com uma longa carta sobre este tempo que chegará a outro tempo através do tempo, uma carta de rir e de chorar, uma carta só para lembrar. e talvez ainda vá a tempo, vai-se sempre a tempo do nosso tempo, vou escrevê-la e e metê-la dentro de uma garrafa e enterrá-la bem fundo, as raízes são fundas, junto da minha árvore preferida aqui bem perto de mim. está decidido.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

não quero saber porque foi espontânea

ainda não tinha sentido hoje o bichinho de escrever a picar-me. regra geral começa logo de manhã, ainda eu estou a esticar-me toda na cama, pica aqui-pica acolá, comichão gostosa. chegou agora, sei bem porquê, depois de espontaneamente ter feito uma coisa com a mão, mão que desobedeceu ao cérebro e só ouviu a vontade. não sei bem se castigo a mão, a minha, ou se a beijo cheia de meiguice - com a mesma meiguice com que ela, rebeldia em bicos de dedos, se manifestou. julgo que não, não vou castigá-la. e não vou porque o meio olhar, que nem sequer foi inteiro, já me (a) castigou.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

amanhã: resiliência again.

nunca mais esqueci uma passagem, uma conversa de vão de escadas, da série o sexo e a cidade por ser, não particularmente interessante, um argumento que adorei sempre contestar com as minhas amigas - revirar-lhes as tripas do invisível do avesso, vê-las espumarem-se a favor do óbvio:

se não te liga nem convida para sair: não está interessado.

hoje lembrei-me disso pelo que ela me disse, tristeza na voz, ainda agora, ao telefone. talvez, não por estar a chover, por estar a chover-me toda, resolvi tomar partido do óbvio que chega a ser absurdamente estúpido de tão óbvio, e assenti: se não te liga nem convida para sair, não está interessado. 

(amanhã é outro dia e com toda a certeza vou ligar-lhe, revirar-lhe as tripas do invisível e ouvi-la a espumar-se toda a favor do óbvio: quis sossegar-te, ser solidária contigo, dir-lhe-ei, mas hoje é outro dia - dia de resiliência.)

os nomes também servem para isto: vá-se foder Ricardo

dez menos cinco e não enconto o número da porta. ligo para o número fixo de onde me ligaram a marcar a entrevista - que não corresponde ao indicativo da localidade. atendem. descrevem o prédio como sendo salmão e com uma caixa de areia em frente - continuo a andar aos papéis porque o prédio é, efectivamente, castanho e na frente há um círculo em terra batida no meio do jardim. dez horas. dez e dez. dez e um quarto. dez e vinte. dez e vinte e cinco. chega um homem alto, moreno, remelado, e com aspecto de escarradela a pedal saído de um audi tt (é mesmo verdade que as primeiras impressões raramente nos enganam). passa por mim - que estou mesmo à porta -, mede-me ao centrímetro, e não dá, nem com o cu nem com a boca, sinal de vida. abre, com a tranquilidade de um governante roto, a porta e os estores. eu: continuo fora a aguardar mais uns segundos e a observá-lo. os nervos, os meus, começam a indiciar agitação. acalmo-os e decido entrar. bom dia, a chuva tem destas coisas e gera atrasos - não é? o meu nome é Olinda e tenho uma entrevista agendada hoje para as dez horas. sem me cumprimentar e me acolher, manda-me aguardar e dá-me uma ficha para a mão. pergunto-lhe para que serve a ficha e porque não me dá uma explicação para o atraso. diz-me que a ficha é para eu preencher e que a entrevista está marcada para as onze menos vinte e cinco. digo-lhe que não, que foi agendada para as dez. sem olhar para mim, diz-me que devo estar a mentir porque no pc não há essa indicação. peço-lhe para esclarecer junto da senhora que me ligou. diz-me que não precisa porque sabe que o erro foi meu. pergunto-lhe o nome e não me diz. pergunto-lhe qual é exactamente a função e não me diz. pergunto-lhe onde fica o escritório de onde me marcaram a entrevista e não me diz. chamo-lhe atrasado mental - não pela deficiência em si mas pela limitação óbvia de não poder estar atrás de um balcão a lidar com pessoas. pergunto-lhe novamente o nome e, já sem aquela tranquilidade de fedor a mofo, diz que me diz na condição de eu lhe dizer para que quero o seu nome. rasgo a ficha bem à frente dele e digo-lhe que sou muito bem educada e faço, por isso, questão de saber o nome a quem quero mandar foder. e digo-lhe: vá-se foder Ricardo. e saio, nervos lisos, orgulhosa - como sempre - por não me deixar corromper perante as vicissitudes da vida. 

estará ainda por nascer quem julgue que me faz abdicar, o meu tesouro, dos meus valores e das linhas com que me coso.

repara como o sono repara

e depois existe o sono reparador, uma espécie de milagre, uma pequena morte balsâmica, que nos faz sentir o dia sempre diferente do anterior e do seguinte. não quer dizer que seja melhor, o dia, mas é, com toda a certeza, diferente.

domingo, 14 de outubro de 2012

domingo feliz

o meu sobrinho bebé já pede o meu colo e m'abraça; o meu sobrinho adolescente vem do Algarve passar o natal connosco; o meu cozido à portuguesa continua a fazer as delícias dos adultos; e sentir saudades de alguém, de branco e de olhos de mel brilhantes, é bom sinal - e um bom segredo também.

sábado, 13 de outubro de 2012

os sacos do euro colhões

senti hoje, pela primeira vez na nova estação, frio matinal. mas é um frio gostoso que faz parelha com a geada, aquela manta branquinha, que cobre as ervas e nos invoca, também a nós, um aconchego diferente.

na natureza não há ignorância: tudo se processa just in time - ao contrário da ignorância das gentes, de algumas gentes, cuja sabedoria maior consiste no just in case. a maior sabedoria de um ignorante é ter a certeza que consegue manipular outro ignorante - só um ignorante aspira ter junto de si outro ignorante, que, por sua vez, por ser ignorante, nem dá conta que está a ser manipulado. quando dois ignorantes se juntam fazem um - não ímpar - impar de sabedoria e quando há um grupo de ignorantes temos um aglomerado de zeros à esquerda. é assim mesmo que os ignorantes se vêem e se tratam uns aos outros: como números e ainda por cima decimais. podia bem ter dado um exemplo com letras, podia, bastava dizer que cinco ignorantes juntos, cada um com a sua letra, formam uma bosta. mas não, nada disso, as letras são preciosas demais para serem usadas para e com os ignorantes. zeros à esquerda está óptimo para quem só vê na ignorância o euro milhão.

(e, já agora, o colhão. é que os ignorantes, as gentes ignorantes, andam com sacos de escroto no cérebro e na boca - tudo menos carregá-los bem no sítio. e não, não penses que por seres do feminino não cabes aqui: pelo contrário as mulhres são, até, as mais acolhoadas de todos nisto da ignorância. mas há quem lhes chame ovários.)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

bella rizzota. ou simplesmente riso valente.

olha que coisa pirosa, esta: muçarela é o aportuguesamento de mozzarella. ora, pela mesma lógica, piça não deveria ser o aportuguesamento de pizza?

o livro fez-me parar, para pensar, nesta parte e, em geral,

interessa-me muito mais aquilo que não vejo do que aquilo que vejo - aquilo que vejo é apenas o que alguém quer mostrar e aquilo que não vejo, não quer dizer que esse alguém queira esconder, é o que esse alguém não quer mostrar. e se não quer mostrar é isso mesmo, simples, um não querer. e daqui, a partir desta conclusão, não pode ser de outra maneira, acaba-se o meu interesse tanto pelo que vejo como pelo que não vejo. a mera curiosidade não me desperta interesse por pessoas, talvez confundam não mostrar com mistério mas mistério é outra coisa - o mistério que estimula o interesse mostra-se, porém vestido, todo. conhecer alguém também implica fazer parte da vida, intima inclusivé, de alguém.

ou há alguém que fique moreno por inteiro se estiver metade dentro e metade fora do guarda-sol ou vestido por debaixo do sol  ou despido por debaixo da sombra só porque vai à praia? é tal e qual.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

espelho na voz

cresceu a ser paparicado, o Manuel, convencido - porque o convenceram - ser o melhor do mundo. cresceu e, agora Eugénio, mudou de nome.

micro-relato de uma micro-personalidade com micro-carácter

quando ela começou a passar as noites com uma pila que, experimentando, gostou mais do que das outras - despachou o cão.

era uma vez


piscam-se os olhos, piscam, como se a morder dos lábios os cantos
jaz o triste, o mudo, o cego
perante beleza tamanha, sem manha, flor
como se ordenada em quarto de vestir
espelhos, folhos e laços
sem pudor e embaraços
se entregasse nos dele braços
era uma vez, nos braços de pano brancos, fluidos d'amor, uma flor

voz de mel(odia)


minimalismo ou apenas o mínimo?




 há diálogos(?), assim, minimalistas - se os entendermos como um movimento sem qualquer movimento. sim, eu sei que é confuso, até eu fico confusa, quando no fundo trata-se de utilizar palavras apenas para assegurar o mínimo. um exemplo: olá. até logo. há, de facto, um movimento que é momento comunicacional mas que é completamente estático, parado, não avança para coisa alguma. 

o ir e o estar são acções, per si, de desenvolvimento potencial. por outro lado, o nada fazer também será uma acção: aquela acção onde se situa o tal diálogo (?) minimalista ou que assegura apenas o mínimo.

conclusão: quando não há mudança será porque não há o que mudar. ou então, completamente o inverso, o minimalismo é a mãe de toda a abundância. pois, lá está, estou novamente no ponto de partida cujo diâmetro tão reduzido o coloca no ponto, que é o mesmo, de chegada. talvez a melhor imagem para este tipo de diálogos, que sugerem acção pela não-acção, seja a minha menina morena quando corre, incansável, em busca do próprio rabo peludo. que linda imagem. mereces uma homenagem, Valquíria.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Gauguin, o bicho. e também bicha.



estive ontem, na poltrona vermelha, a ler sobre Gauguin. pouco me apraz a sua obra mas encontro-lhe beleza - a das cores. o que transpira do homem para o artista, seja ele qual for, ou é o que é ou o que finge ser. e neste caso, sabendo de alguns pormenores da sua vida e observando cuidadosamente a sua pintura, concluo que a pintura é o que de facto ele foi e de como viveu: vejo festança, puro divertimento, sem preocupação pelos outros; vejo libido manhosa e doente; vejo ausência de afectos.

morreu quase sozinho, sexo apodrecido, depois de ter contraído sífilis e de querer salvar-se passando-a a uma virgem indígena de treze anos - protótipo de menina que desejava sempre violar. envolvera-se com Van Gogh, enquanto nos intervalos espancava a mulher e fazia questão que o filho assistisse, e levou-o à loucura tamanha a sua predisposição para a promiscuidade.

morreu, bem visto, sem a vida no sexo que maltratou em vida - porque os sexos também têm alma. morreu mesmo bem. será caso para dizer que a morte assentou-lhe, não como uma luva, como uma foda: teve uma morte fodida.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

(?)

a simetria é, afinal, estranha.

peso

o Vicente nem sequer pesa dois quilos. no entanto, pegar nele pesa tanto - pesa a fragilidade e a inocência. pesa, essencialmente, a vida, a sua, que depende completamente do peso que tem na vida de outros. e é esta leveza, a leveza pesa sempre tanto, que nos mostra que o peso, afinal, nada pesa. apesar de pesar tanto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

insulto

dizerem-me que sou demasiado honesta e sincera, não há honestidade sem sinceridade e vice-versa, é um insulto. tratando-se de características inteiras - ou se é ou não se é - não há espaço para manobras quantitativas. é, por isso, um insulto mensurar, pela falta delas em uns, o meu suposto excesso, quererem transformar a virtude em defeito por ser precisamente no defeito que cabem. é assim a gente reles.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

fico feliz por

38 ser um número feliz. ora faz as contas. já com o 30 fiquei com um nó: chega a certa altura e não sai do sítio. que nome dar-lhe?

começar. dar.

descobri uma livraria outlet, não consigo perceber como é que este conceito se adequa a livros - os livros são atemporais, e consegui comprar a um custo muito reduzido o presente para o Rodrigo, o meu segundo sobrinho que faz um ano. a minha ideia é que os pais comecem desde já a contar-lhe histórias, a pô-lo em contacto, por apalpamento e pelos olhos, cores e texturas, com o livro. e talvez daqui a quatro ou cinco anos ele o leia de fio a pavio e faça deste presente o mais belo exemplo para o conceito de, embelezar o mundo, viver em poesia. está lá tudo: está a realidade, está o sonho, e está a potencialidade para a capacidade de dissecar, misturar e distinguir o real e o fantástico. sim, é verdade, um ano parece-me uma idade mesmo boa para o começo.

agora vou, também não há idade para isto, partilhar do que eu tenho a mais e a fervilhar, dar sangue. vou partilhar vida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

gana, olhos de delícia.

fica bem de todas as cores, olhos de delícia, inveja tem o arco-íris, mas o branco, o amarelo, o verde, o lilás e o azul bebé realçam-lhe os encantos - mesmo com aquela linguínha, que dá gana de morder, de fora.

fazer bicos

pode ser uma excelente ideia para reduzir a taxa de desemprego. à semelhança da Jennifer Lopez que tem um empregado com a função exclusiva de lhe apertar os bicos, relevar a sensualidade, antes de ela aparecer em público também Passos Coelho deveria promover esta ideia em casa e junto da Assembleia da República mas apelando à contratação de dois empregados, um para cada mama, por mulher.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

olhos em saudade

os olhos também sentem saudade. quando, ansiosos, aguardam ver e não vêem ficam pesados e sonolentos, uma espécie de comichão pisqueira, não sei se existe esta palavra mas passou a existir, piscam mais vezes como que a pulular pelo encanto dos outros que não estão. e, depois, exigem que se levante o cu do cadeirão vermelho, é quase sempre no vermelho, que estava ao sol e entretanto se fez sombra. e vão embora tristes, desconsolados, os olhos.

mamar

nasceu o terceiro filho de uma grande, querida, amiga - também rapaz, talvez tanta testosterona junta não desequilibre a casa. excepções existem. porém, terei de investigar sobre uma coisa curiosa que nunca parei para pensar: como é possível que um bebé que nasce não prematuramente tenha ausência do reflexo vital que é mamar? é uma espécie de aculturamento muito, imensamente, precoce a que a inocência não está familiarizada. é estranho pensar que se ele se cumpriu na placenta e nasceu a seu tempo, como sai para o mundo sem saber o que é sugar a mama ou a tetina? porque precisa ele de ser ensinado? 

esta questão poderá levantar hipóteses acerca do mundo e da transformação do Homem: estará o Homem cada vez mais próximo daquilo que é a civilização e a afastar-se mais e mais da inocência da simples existência?

terça-feira, 2 de outubro de 2012

as coisas que eu descubro

há um infinito de coisas para aprender. ao acaso, por combinação de letras, descobri esta palavra: rumpologia. será caso para dizer que se trata de asstrology.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

deliciosamente sós

não possuo, confesso, grande cultura sobre cinema além de gostar de ler as narrativas que se escondem por detrás da narrativa, talvez por gostar muito simplesmente de histórias, e tenho uma memória péssima para decorar tudo aquilo que não me marca fortemente. digo, portanto, que nomes de actores e actrizes e filmes e cineastas e afins vai tudo para o galheiro e não me importo nadinha com isso: interessa-me reter as mensagens que de alguma forma alimentam a minha massa crítica.

mas sei o essencial sobre cinema. sei que quem faz filmes o faz para, na sua, poder estar com a solidão dos outros. porque quando vemos um filme ou lemos um livro, um livro é a espécie de filme mais criativa do mundo, estamos sempre deliciosamente sós.

toda - e aos pedaços

tenho um fascínio fora do comum pela cozinha - é na cozinha que se fazem, transformações espantosas, alquimias. é a paleta de cores e de cheiros e de sabores que fazem desta arte, e toda a arte só pode ser criativa, um amor. e é por isso que quem ousa criar, recriar e reinventar na cozinha merece um pedaço de mim, da minha admiração, do meu orgulho, da minha vaidade. 

é curiosa a analogia do comer na mesa com o comer na cama porque é, de facto, a mesma coisa: o outro é sempre uma paleta de cores e de cheiros e de sabores, energia criativa, em arte. e não vale a pena chamar artistas aos que cozinham apenas por obrigação ou quando estão com fome porque não o são - cozinhar só pode ser com paixão e entusiasmo e dedicação porque não é depois, quando a delícia está pronta, só depois, que se sente o imenso prazer da obra: para ser arte, o processo é contínuo; a alegria e o prazer e o respeito por cada cheiro e cada sabor e cada sensação começa antes de arregaçar as mangas e continua durante a execução e é, precisamente, quando o salgado ou o doce está pronto a comer que, já comido, fará disparar a alegria e o prazer. 

e é por isso que aproximar o que é degustar na mesa com degustar na cama me parece tão bem. pode acontecer que o tal pedaço de mim que falava no início, aquele pedaço, não seja afinal um pedaço. o que pode acontecer, penso, numa mistura tão intensa nesta arte de cuisine divine é alguém poder ficar-me com toda. o todo, afinal de verduras, é sempre o conjunto de pedaços.

(antes que me esqueça: começou ontem, galeria municipal de arte de barcelos, a exposição do querido João Cutileiro. há escultura, desenho, relevos e fotografia e também há quase um mês para visitar - termina a 24 de novembro.)

domingo, 30 de setembro de 2012

You Porn

lia ontem uma crónica da Ana Markl sobre o seu desejo de escrever um argumento para um filme pornográfico, uma espécie de pornografia para mamãs. desconhecia o que era o You Porn e fui ver. fiquei a pensar no que li e no que vi e a minha conclusão é a mesma de antes: querida ana, não há pornografia diferente para homens e para mulheres - a pornografia é absoluta ausência de alma e poesia com o corpo. bom, explico de outra forma: pitas, pilas, cus e bocas sem ser nas bocas; carnes que se esfregam nas carnes a gemerem à moda de ensaios de bandas filarmónicas em vésperas de actuações nos coretos das terras; sexos rapados sem possibilidade de os pêlos encravarem pela simples razão de os pêlos serem os únicos a gostarem, por habituação, de ficar em privado; os sexos erectos sofrem de paranóia misturada com esquizofrenia e por isso se levantam tão prontamente; os sexos onde cabem garrafas e pepinos e três pilas sofrem de obesidade mórbida. e é por isso que a única banda que um filme pornográfico pode ter, não é a sonora, é a gástrica.

querida, no sexo bravo - como dizem por cá - não há estatuto social: as mães papam os filhos e os filhos enrabam as mães e o patrão chupa o empregado e a médica faz um broche ao paciente. isto tudo para te dizer, Ana, que um filme pornográfico com argumento para mulheres, aquela distinção que queres fazer, com romance, deixa de ser pornográfico. passa a haver sensualidade, erotismo e beleza na intimidade sexual, como deve ser, entre duas pessoas. e depois lembra-te que a maior parte das mulheres gosta mesmo é de pornografia, não é de romance. esquece, por isso, lá isso e dedica-te a escrever micro-narrativas modernaças do género: conheceram-se e foderam, ponto.

(camomila)

a comunicação é um domínio tão vasto que me alegro só de pensar. e conseguirmos comunicar sem palavras, sem aquela convencionalidade, faz-me feliz. mostra-me, em lentidão, a sua imensa inteligência - a confirmação do que eu, mesmo sem conhecer, por mera intuição, pelo que os meus olhos viam e liam pelos seus, suspeitava. são, não deixam de ser, conversas: conversas invisíveis - e o mundo invisível é tão rico e de uma beleza tão grande.
é, sem duvida alguma, brilho até na orelha, especial - no superlativo absoluto. 

vamos celebrar:


sábado, 29 de setembro de 2012

batata, puré, empadão

é de sábio, sim, não fiques passado, ralar o passado e sempre pensar: o melhor, o feliz, está no presente ou, em bicos de futuro, quase a chegar.

(é mais ou menos assim: o passado é a batata cozida que sobrou e o presente é, bem passado, o puré tão cremoso com a possibilidade de virar empadão - aquele empadão maravilhoso.)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

o que há mais é activos assim

"Os seus activos estão completamente cobertos?"

ou tona

não é no nome do mês que o outono se faz notar. faz ele questão, como deve ser, de se aperaltar com rigor: faz dias de sol com vento alternados com chuvas amenas; pede às árvores que se abanem como se fossem sambistas lentas a espalhar o seu charme - umas espalham as pinhas e a caruma crocante, outras espalham as folhas estaladiças e outras enviam pelo ar as castanhas de casaco grosso e picante vestido. é uma gentileza bem grande, esta mistura de cores terra, que o outono nos faz. lá atrás, no jardim, o chão está coberto de pinças castanhas e bicudas e de picantes quase abertos. as folhas, mal se vêem. 

o outono traz à tona os segredos das árvores. e é por isso que deveria ser, justamente, outona.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

tinha mesmo de perguntar

o caralho do sapo emprego acaso anda em conluio, só ofertas de emprego para o estrangeiro, com o governo?

touradas tranquilas


roseiras, ervas, silvas, heras, vinhais. ou simplesmente verdes são - são forças bravias, touradas tranquilas, em redor
, olé, 
onde não cabem águas paradas na torrente:
buliçosa corrente que é o amor.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

um frango, quiçá?, português. (ops, não pode ser: esqueci-me que o português não é frango, é cigarra)


sorrisos rasgados ao sol. e à chuva.

o sol mete um sorriso na cara das gentes, ao contrário da chuva - a chuva mete-lhes, mete-vos, medo: correm a calçar botas e a tapar o corpo, desconhecem a alegria de sentir as gotas frias na carne, correm a fechar as janelas e as portas, desconhecem da beleza da água a dançar com o vento. a prova de que a chuva também é alegria está nos cães que não se importam de pastar por debaixo dela; ou nos pássaros que não páram de cantar. mas as gentes, ao invés, mostram carrancas e o brilho some-se-lhes dos olhos assim como os sorrisos se sentam, na escuridão de persianas descidas, em sofás. 

bem vistas as coisas, trata-se de uma questão, sol e chuva em análise, lembrei-me de repente, de meter água. um beijo, por exemplo, por debaixo de sol quente pode fazer transpirar e será um beijo de água na boca e na pele. já por debaixo de chuva, o tal beijo pode mesmo encharcar e será então um beijo de água na boca e nos ossos. a verdade é que quando se trata de beijos o sol e a chuva são o casal perfeito da banhada.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

ai que bem resumidinho: toca a enfiar o barrete, gajas, aspirantes a mulheres.


o beijo

tive, sim, um devaneio ainda agora. um devaneio não é uma coisa do outro lado do mundo, não é um zabelê - um devaneio pode bem ser, e é, um entusiasmo silêncioso e escondido e discreto do outro lado da rua. foi um beijo, ao mesmo tempo doce e quente, com a chuva torrencial como fundo. tenho a certeza de que é assim o seu beijo: doce e quente tal e qual devaneio.

da importância das pessoas

encontrei-os ontem - já não os via, seguramente, há cinco ou seis anos. ele na altura tinha-a traído com uma ex-namorada e foi pai. (tu dormes em uma arca congeladora, pergunta-me, olha a tua pele e o teu cabelo que não envelhecem.) ela sofre daquela coisa de não conseguir estar sozinha, de não conseguir respirar sem uma pila na cama. disse-me que teve vários companheiros entretanto e que voltou a casar e que não deu certo com o tal rapaz. e agora encontraram-se, encontrarem-se é sinónimo de eu liguei-lhe, estão juntos outra vez, um mês depois do divorcio dela. o filho dele tem já seis anos. os mesmos tiques, a mesma mania da grandeza dela: agora vivo em um apartamento com quatro casas de banho, diz-me orgulhosa. isso é muito bom, disse-lhe eu, assim podes fazer uma pinga em cada uma delas, remato. e o riso veio dar um toque de graciosidade àquele encontro mesmo ocasional. 

é interessante pensar que podemos estar anos sem ver alguém, alguém que não nos faz a mínima falta, e de repente vemos - quando a falta que faz é exactamente, nenhuma, a mesma. penso, até, que este tipo de encontros serve para percebermos, da importância das pessoas, isso mesmo: há pessoas que apenas se cruzam connosco, na vida, para sabermos, e sabermos distinguir bem, quem - e o que - nos faz falta.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Blogue, cem; FB, zero.

uma das grandes maravilhas de a) escrever b) no blogue é a) e b) poder exprimir exactamente o que me vai por aqui, pela trilogia inseparável que é alma/coração/mente, sem qualquer tipo de confrangimento - não faço ideia de quem, e quando, me lê- e é melhor assim. escrevo sempre sem censuras, sem receios, sem amarras. estou-me cagando para quem eventualmente até vem cá ler e se depara com alguma frase, mais ou menos agradável, alusiva à sua pessoa; escrevo sempre com a convicção de que me escrevo e esta será, talvez, a maior vantagem para quem se interessar por perceber como funciona a minha cabeça. antes deste houve outro, o primeiro, desde 2007, uma forte experiência do que é a interacção - e daí a decisão de este excluír a possibilidade de retorno pela parte de quem lê: a grande maioria do que escrevo não está - porque sou eu - sujeito a discussão.

o blogue é assim uma espécie de folha em branco de bordo nesta viagem que é viver, algo único e completamente privado mesmo estando acessível a quem o quer ler: a superficialidade e o marketing pessoal por nível do FB não me seduzem e cada vez mais o conceito de amizade que as redes sociais ajudam a proliferar me mete nojo: o mundo precisa de efectivos laços; o mundo precisa que as pessoas aprendam a saber o que é a lealdade e a solidariedade in loco; o mundo precisa de amizade em itálico.

(isto porque alguém me enviara um email a questionar-me o porquê de não escrever no FB)

domingo, 23 de setembro de 2012

miss bitch d'encantar


a propósito do governo sombra que deu ontem na TVI 24

és tu quem salva aquilo, Pedro. é que nem por sombras os outros dois macacos te chegam à seriedade celeste, onde também cabe a graça, com que falas. eles não sabem, continuam sem saber, que no discurso oral não cabe o mesmo tom piadético do do escrito - tem de ser outro tom, aquele, aquele perfeitamente em parelha com a expressão facial, que tu sabes usar. 

(só mais uma coisinha: se deixasses a barba propagar-se para os lados, não julques esses pêlos em falta como daninhos porque não são, ficavas ainda mais giro.)

ouça

já estava preocupada. agora ando mesmo muito preocupada: ando a trabalhar num projecto desde o início do ano, que agora termina, quase de borla. desde a queda do anterior governo que o investimento na minha área de trabalho foi cortado e as perspectivas são péssimas; sempre apliquei as minhas poupanças naquilo que considero o maior investimento de todos - na minha valorização com estudos superiores e formações profissionais, uma espécie de profilaxia contra eventuais crises. lixei-me, quilhei-me, fodi-me: quanto mais sei de menos me serve e sem dinheiro, o meu grande sonho é viver sem dinheiro, não vivo. sem dinheiro não posso pagar a renda nem as contas fixas do viver; sem dinheiro terei de partir para outra cidade - a cidade de onde decidi partir - para me abrigar debaixo da asa do meu pai. bem sei que a minha eventual perda de independência será apenas um pormenor nisto do mundo, nisto do país, mas o país e o mundo começa em cada um não fosse cada um, pois claro, um mundo. a cada conjunto de cem curricula que envio, recebo duas respostas e vou a uma entrevista - tenho ido a bastantes, até, mas o receio das empresas é bem maior do que a potencial aposta na aquisição de bom capital humano. as outras, as outras empresas que oferecem serviços de trabalho quase indiferenciado, nem sequer equacionam entrevistar-me: sofrem do complexo de superioridade virado ao contrário. e estamos assim, vidas em stand-by.

ouçam, potenciais empregadores, o que eu sei fazer naturalmente e muito bem:

escrever, cozinhar, coser, bordar, artesanar, limpar, arrumar, pendurar candeeiros e varões, contar histórias a crianças e a idosos, falar com animais.

e tenho a seguinte experiência profissional:

     administrativa, baby sitter, técnica superior de relações internacionais, técnica superior de segurança e saúde no trabalho (SST), vitrinista, consultora de SST, formadora SST, auditora interna SST, formadora qualidade, editora e revisora de textos, formadora de escrita criativa.                        


com a formação académica e profissional que vou referir:


Bacharelato em Relações e Cooperação Internacionais
Licenciatura em Relações e Cooperação Internacionais
Formação Pedagógica de Formadores
Curso Técnico Superior SST Nível V: CAP
Pós-graduação em Segurança e Saúde no Trabalho
Pós-graduação em Qualidade
Formação PME 
Certificação/Qualificação de Auditores de SST 
Engenharia do Texto e Escrita Criativa
Vitrinismo/ Visual Merchandising
Técnicas de Vendas
Desenvolvimento de Competências Pessoais para Liderar e Animar a Força de Vendas
A Excelência Pessoal na Negociação

Atendimento de Público e Relações com o Exterior
 Formação Prática em Auditorias de Saúde e Segurança no Trabalho
        Clienting/ Orientação para o Serviço ao Cliente 
 Análise da Clientela da Concorrência
Gestão do Tempo/ Condução de Reuniões
Coaching – Desenvolvimento de Carreiras
Gestão da Imagem Pessoal
Criatividade e Gestão das Emoções
 Animação de Equipas de Trabalho
Organização e Gestão de Eventos 
Informática
Secretariado
Atendimento telefónico
Inglês
Comportamento Organizacional
Falar em Público
 

 chega para querer, pelo menos, entrevistar-me senhor empregador? ouça: está abreviado, pronto a comer.

(o meu email: olinda.de.freitas@gmail.com)

sábado, 22 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

mistifório

que há homens que ainda deixam as tampas da sanita levantadas, eu sei. (um dia dei-me ao trabalho de produzir instruções - e imprimi-las também com desenhos - para colar nos azulejos da casa de banho de uma amiga que era frequentada por muitos rapazes. aliás, também nunca percebi por que raios e coriscos não limpam a frutinha, está bem: a fruta, para não ferir susceptibilidades, com papel e só têm essa preocupação quando de calções de banho vestidos para não se notar a mancha - mas não se importam, o rasto, com as pingas nem com a malina). agora que há mulheres que têm essa má prática, não sabia. fiquei chocada hoje de tarde quando fui lanchar e usar a casa de banho. porcas.
*
pode até parecer que não reparei - mas reparei. reparei, deliciada, na música de orquestra que por momentos passou. e gostei muito: da música e do gosto por ela.

 *

andam muitos por aí com enfermidade nos testículos enquando curtem a moca. é que as conclusões de um estudo levado a cabo pela universidade da Nova Califórnia, EUA, revelam que o consumo de marijuana provoca cancro nos testículos. será caso para dizer: ó pá, guarda-os para a maria. ou para a joana.

*

a Índia anda na caça, uma praga, aos ratos. por cá, prepara-se a caça ao coelho. coelho à caçador começará, talvez, a fazer parte da gastronomia típica portuguesa.

*

a timidez nem sempre é um defeito. pode ser até uma vantagem: a sequência de encantos escondidos que se vão revelando, prendem. e daí sai a libertação. muitas vezes a brincadeira também é a timidez mascarada: mais leve e colorida mas mascarada. além disso a timidez é, sim senhora, sexy.

o mistifório de pensamentos, este, merece banda sonora.


é uma varanda portuguesa, com certeza!

é impossível não reparar por aí: em um metro quadrado de espaço há plantas amontoadas nos cantos; por cima, o estendal que já descai para o lado mais fraco que é, curiosamente, o que apanha sempre com mais roupa; penduradas, a apanhar - pensam o ar - o fumo do tráfego, roupas de cama onde se avista um lençol ou um cobertor da hello kitty; há também uma gaiola pequena com um canário e um guarda sol da olá ou da super-bock, bem encaixadinho na esquina, a promover a sombra. depois há uma qualquer mesa que estava a mais em outro sítio qualquer, de toalha plástica vestida, que abriga um santo antónio e uns bonecos de pelúcia para embelezar. ainda há espaço para a vassoura, a esfregona, o balde e a bacia. por dentro de por dentro da varanda há a luz inconfundível da televisão, incansável, que muita vezes nem se desliga: serve de pretexto ao acordar e depois, rotina fardada, aos afazeres do fim do dia, do jantar e do deitar. pica-se a cebola com mais afinco, nervos nas mãos, a ouvir as notícias. e depois, nervos nas bocas, janta-se a apertar os cintos (antigamente desapertavam-se quando o arroto vinha a caminho) e lava-se a louça ao som da banda sonora da doce tentação. já quase dispostos a deitarem os cornos na palha, ainda há tempo, canal mudado, de (se) provocarem algum tesão com a gabriela e, finalmente, conseguirem a tal ejaculação antes de dormir. no dia seguinte, na varanda, muda, talvez, a cor dos lençóis e da roupa do estendal; muda a posição do guarda-sol - porque acontece chover. e se alguém se lembra de ir à varanda, o único espaço exterior, apanhar o tal ar - ou então soltar uma corrente de ar: não pode. não pode porque não há espaço e o pobre do flato que andou reprimido todo o santo dia nem ao pé do santo antónio pode rezar. e, apertado, sufocado, corre escadas acima até não mais poder - fica no patamar do peito. suspeito, até, que será esta a história vernacular, tudo começou em uma varanda portuguesa, do aparecimento das anginas de peito.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

que não se ponha a jeito

não sei bem quem estará interessado em ver os limõezinhos secos da duquesa. uma coisa é certa: se há violação da privacidade por um lado, quero dizer mais por uma frente porque se ela estivesse de costas não havia sururu, obviamente, por outro existe uma nítida despreocupação em respeitar o protocolo pela própria duquesa e marido apêndice.

(eu também não ando de meloas nuas no meu terraço. e não sou duquesa nem devo prestar contas dos meus actos ao reino. homessa: que não se ponha a jeito.)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

fuck u Naomi!

não obstante a importância do movimento feminista no desenrolar do papel social da mulher no mundo contemporâneo este tornou-se, progressivamente, em mero sexismo e desvirtuou - ao invés de exaltar - a mulher. não me sinto minimamente orgulhosa pelas que gritam que mulher também é pessoa: sinto, até, uma tonelada de vergonha por tamanha discriminação implícita. o feminismo, no seu expoente médio e máximo, não passa de machismo virado do avesso - e o que é o avesso senão, o tecido por debaixo do tecido, a pior parte?

estou convicta, até, que a designação de feminismo para este movimento será uma designação desprovida de verdade e realismo. o feminino, a essência do feminino, nada tem que ver com lutas de poder e de importância. estou mais de acordo com a designação de vaginismo dada a semelhança de ideais e de lutas travadas contra o que é possuir um pénis. as feministas são, bem visto, as lutadoras pelo lugar ao sol que se chama pénis - elas querem ser vaginas com pénis por dentro. e daí o surgimento da misandria tal como da misoginia, são ambas aversões dos lados da mesma moeda. e isto para falar do novo livro da feminista Naomi Wolf, Vagina, que não tenciono ler.

aquela coisa de se dizer, desde sempre, que os homens têm a pila no cérebro está agora em luta de igualdade pelo feminismo: afinal, descobriu ela, a pita também está no cérebro e tudo não passa de um mero processo biológico em manobras de diversão. bem sei que será difícil perceberes português, Naomi, por isso vou dizer-to em inglês bem americano: fuck u!

(até já tenho um vídeo especial para ti)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

lilás

estava já decidida a mudar a cor das paredes do meu quarto e da entrada quando hoje ela,  a cor da eternidade, voltou a sorrir-me e sussurou: não mudes - olha como eu sou beleza e embelezo, olha como eu sou poesia, não me troques.

resinar, faz ela

vou investigar se a resina terá um cheiro afrodisíaco: a minha cadela passa mais tempo a cheirar o fundo das árvores e a roçar-se, consoladinha, na resina do que a libertar dejectos. e eu, ensimesmo-me ao mesmo tempo que partilho da sua alegria no chão de terra, erva mirrada, já coberto em folhas de outono à espreita.

domingo, 16 de setembro de 2012

a propósito da conferência os portugueses em 2030

que decorreu ontem no ccb, vi a parte que passou em directo e começo pela última interveniente - não por os últimos serem os primeiros (dizem) - por me ter sido uma das intervenções mais desinteressantes, talvez pelas minhas expectativas serem bem mais altas atendendo à profissão da Maria Filomena Mónica, socióloga. abordou a temática da imortalidade de uma forma tão superficial e óbvia que me fez lembrar uma conversa circunstancial de café: referiu a morte como o fim e a imortalidade como simples longevidade enfatizando a sua percepção pessoal de serenidade e agnosticismo. a única coisa que gostei foi mesmo quando disse, de relance, que a imortaloidade está no amor e na lembrança. uma pobreza, é nestas coisas que a crise se instala, de discurso.

antes dela, um pseudo engraçado que não me caiu - de todo - em graça: João Miguel Tavares, escritor, tentou fazer uma crónica em alta voz e em directo e o que saiu foi uma mixórdia de ideias com conceitos porventura interessantes contudo mal explorados e sempre a roçarem a sátira política: a luta de classes terá dado lugar à luta etária e estaremos perante um marxismo demográfico em virtude de a esperança média de vida tender sempre a aumentar cujo resultado será a revolução grisalha e respectivos custos da imortalidade, a eternidade terrestre. ademais, a horrienda dicção do rapaz e a falta de riso da audiência à sua pretensão de engraçado fizeram da sua intervenção um circo. e eu, vi um palhaço frustrado.

que delícia o maestro Rui Massena: uma breve introdução à cultura mundo e à máquina que ultrapassou o homem, a problemática da adaptação a esta realidade e depois aquilo que constitui a garantia da imortalidade - a criatividade que se opõe à prudência porque ser criativo é ser espontâneo, é criar o próprio gesto que faz sonhar, e sonhar é ter uma identidade, é aprender a tolerância e é, em sumo, a felicidade. apontando a orquestra como o melhor exemplo para ilustrar o que é uma sociedade criativa - com identidade, tolerância, enfim - e feliz apresentou e tocou, ao piano, uma música mostrando como será o futuro através dos sons. belíssima intervenção; belíssima criação.

igualmente deliciosa a intervenção do padre Mendonça, teólogo. conceitos interessantíssimos sobre a ficção da imortalidade em que vivemos: o ignorar da morte que nos faz pós-mortais, o viver como se imortais fossemos, a ideia maravilhosa de que é necessário consumar e não apenas consumir a própria existência porque a vida é um dom que transcende a existência individual e urge fazer renascer a esperança, a esperança que espanta o próprio deus, já que a fé não cai em desuso nem a caridade - apesar de esta última ter de ser reinventada. que orador cativante.


sábado, 15 de setembro de 2012

então o que vai ser, meu amor?

, gosto de conversar quando estou a pagar, gosto de ver o peixe fresquinho ainda a saltar como se em desejo da minha boca, gosto de ver as carnes serem desmontadas e do cheiro a morcela, gosto de ver as alfaces vestidas de gotas para o baile do almoço. gosto mesmo. gosto de ser antiga, gosto do comércio tradicional, gosto de ser recebida com sorrisos e vozes cantadas: então o que vai ser, meu amor?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

é bom, muito bom, não é errado, é fardo


conversar é sexy.
sorrir e rir é sexy.
a simpatia é sexy.
a gentileza é sexy.
a cumplicidade é sexy.
a confiança é sexy.
a inteligência é imensamente sexy.
há olhares, aqueles, em dança, sexys.
é sexy, ele.
as vontades são, efectivamente, sexys.
todo isto é lascivo, tudo isto existe, não é errado, tudo isto é fardo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

pausa no relatório

sou suspeita para falar de ovos, amo-os com todas as minhas gustativas, além de gostar de lavá-os e olhá-los, adoro comê-los cozidos, estrelados, escalfados, inventados. só não sabia, ainda, o gosto de ovos ministrados - sabem, que delícia, a riso. parece-me, no entanto, que além da pimenta e do sal, deve aprimorar-se mais o sabor com um pouco de pontaria.

andar sempre parado - que paradoxo interessante

o tempo tem mesmo de parar e cabe, a cada um de nós, fazer parar o tempo. parar, não no, o tempo é aquele intervalo de absoluta consciência que acontece imediatamente a um pensamento. sim, eu sei, os pensamentos nascem e reproduzem-se como ratos, tem vezes que não temos mãos neles. mas se conseguirmos parar o tempo, uma espécie de excurso interno, departamento federal de averiguação, conseguimos transformar o resto do percurso. por exemplo, eu saio à rua para colocar o lixo no contentor e qualquer coisa prende a minha atenção - se eu dissecar isso, e dissecar poderá até fazer crescer ou embelezar ou descartar, a minha ida ao contentor tornou-se numa viagem especial. outro exemplo: se um assassino parar o tempo, não quando está a premeditar, quando vai executar o crime - talvez não haja crime.

o que quero dizer é que o tempo que nos habita é um tempo muito diferente do tempo do relógio. se a troika parasse o tempo quando está a analisar o caso português, focava-se no douro e desfrutaria de uma bela tarde rio acima ou, então, pele dourada, banhava-se nas águas quentes do sul e  - estou certa - as resoluções seriam muito mais acertadas, mais sadias. se o primeiro ministro tivesse preparado o discurso de mais e mais austeridade quando estivesse, calças baixadas e fivela do cinto a roçar o chão, sentado na sanita a puxar para cagar (é uma expressão tosca, eu sei, mas é a única cuja imagem reproduz o que eu quero dizer exactamente) e nesse instante o seu tempo parasse, talvez o discurso oficial tivesse tido lugar, não antes, no intervalo do jogo de futebol. e o que é que isto que estás a dizer contribui para a nossa felicidade? nada. pouco. ou muito: enquanto estiveste a ler o meu tempo parado, paraste também o teu e isso vai influenciar todo o resto do teu tempo.

quando duas pessoas começam a apaixonar-se, o tempo parado de uma começa a coincidir com a paragem do tempo da outra. às vezes acontece ser apenas por telepatia - a telepatia é uma espécie de telefone invisível - mas não deixa de ser tempo a parar; outras, acontece mesmo com os olhos, ou com a boca. quando acontece com o corpo todo dá-se uma explosão de tempo a parar e, depois, quando os dois decidem reconstruir a explosão, vezes sem conta, até conseguirem fazer parar o tempo antes, durante e depois dela, aí, aí o amor acontece e o tempo anda sempre parado. que bela definição de amor acabei de achar: o amor acontece quando o tempo anda sempre parado. já valeu a pena eu ter parado o meu tempo hoje.

pelos meus olhos

estou muito feliz: a equipa de arquitectos do projecto da casa girassol gostou muito do que aqui escrevi, uns posts mais abaixo, e pediu-me autorização para divulgar a casa também pelos meus olhos. autorização concedida, pois claro, Senhor Arquitecto Simão, e votos de muito sucesso.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

é mentira: as cartas de amor não são, de todo, todas ridículas

foi de Fernando Pessoa que surgiu o dito que todas as cartas de amor são ridículas. talvez porque ele, sim, viveu de forma ridícula e escreveu, de facto, cartas de amor ridículas. um exemplo:

Bebezinho do nininho-ninho

oh!
venho só quevê pâ dizê ó bebezinho que gotei da catinha dela. oh!
e também tive munta pena de não tá ó pé do bebé pâ le dá jinhos.
oh! o nininho é pequinininho!
hoje o nininho não vai a belém porque, como não sabia s'havia carros, combinei tá aqui às seis o'as.
amanhã, a não sê qu'o nininho não possa é que sai daqui pelas cinco e meia (isto é meia das cinco e meia).
amanhã o bebé espera pelo nininho, sim? em belém, sim?

jinhos, jinhos e mais jinhos

Fernando
31/5/1920

ora o ano de 1920 foi precisamente quando conheceu a Ofélia, a tal bebezinha, e nesse mesmo ano pensou em internar-se numa casa de sáude (deveria ter concretizado o pensamento) e contava com 47 anos de existência. talvez Pessoa vivesse em constante crise de identidade e daí até a necessidade de inventar e reinventar os seus fantasmas. de notar que poucos anos antes de escrever esta carta matara Alberto Caeiro, o mais inocente e puro dos seus heterónimos, o poeta-filósofo.

mas voltando às cartas ridículas, estou certa que foram apenas uma extensão do homem ridículo que Pessoa foi - porque ser escritor, um grande escritor, muito raramente significa ser homem, um grande homem. haverá, com toda a certeza, excepções: oxalá as hajam - o mundo será um sítio bem melhor se os grandes escritores conseguirem ser, ser-se, grandes homens.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

à procura da do clitóris

«Esta foi uma boa semana para o clítoris» diz o Pedro, o Mexia, que mexe para abanar, que esta foi a melhor abertura de crónica que conhece. e eu fiquei, sorriso rasgado de consolo, com a imaginação regada - igualmente deliciada com a frase. mas ainda assim prefiro clitóris desta forma, com o acento no ó, acaba por ser uma abertura bem maior. e vou mesmo, agora, tentar procurar a tal crónica, fiquei curiosíssima, para filtrar as tais excrescências erécteis e ter um grande momento de oxigenação intelectual.

tomatar, chéri

também é preciso ter tomates para ser feliz.

domingo, 9 de setembro de 2012

casa girassol

chama-se girassol

flor reengenhada, música que roda ao sol, vento que entra na festa, valsa de dança.

chamam-lhe casa: madeira e cortiça, luz em cobiça, espaço de crescer e de minguar,

movimento, agitação, ademane: flor de futuro de ser.
e de estar.



sábado, 8 de setembro de 2012

bacalhau ao natural é fundamental

o bacalhau, da Maria, qu'é para cheirar, quer alho - o melhor tempero - mas dispensa polifosfatos. é bom que fique, esta alteração legislativa, em águas do tal já que para quem o é não basta, alma magra dele sueco, aqueles que fazem de conta que é dia de s. silvestre - bacalhau é peste. e que se anulem, pois, as alterações em bruxelas que nós, por cá, apertamos-lhes o dito cujo. ou então as goelas.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

resolução do dia seguinte

no sonho mau, ele concretizou a ameaça.

os sonhos, os bons e os maus, são uma espécie de grande película de cinema numa sala enorme, gigantesca, com uma só cadeira, uma poltrona larga e dourada com pés de animal que segura uma bola com as garras, em que os próprios são, ao mesmo tempo, actores e espectadores do filme. e lá estava eu na última vez que saí à noite, de branco vestida e trança a segurar uma rosa a roçar no peito. e lá estava ele, o homem que me assediou, olhos de predador angustiado habituado a mulheres reles, insultou e ameaçou com porrada após verificar que eu não seria uma presa e muito menos uma presa vulgar. mas no filme, no meu filme do sono, ele cumpriu com a ameaça e acordei sarapantada e em gotas de suor gordas de aflição.

no dia seguinte à tal noite, no entanto, a vida tratou de resolver o assunto e talvez nunca mais me volte a cruzar com ele - amigo de sexo de uma amiga de uma outra, aniversariante, que eu tinha como amiga - porque escolhi não mais voltar a sair à noite a não ser com excelentes companhias, as excelentes companhias não têm amigas nem amigos destes, com quem eu me sinta segura e protegida e que não me proporcionem momentos de solidão por forma a eu ser atacada por gente podre.

agora já respiro melhor.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Carrol, querido, a Olinda está contigo!

quando Lewis Carrol, pseudónimo de Charles Lutwidge Dogson, escreve uma - de muitas - carta de amor a Gertrude (Oxford, 28 de Outubro de 1876) em que diz colocar cento e oitenta e dois beijos em uma caixa, cuidadosamente, para não se perderem, está a revelar a sua timidez e a razão porque dedicou grande parte da sua vida literária às crianças. trata-se de uma infantilidade tão gostosa, tão inocente, que senti subitamente vontade de lhe dizer que poderia, igualmente, ter comprado um apito de madeira e soprado nele antes de enviar à Gertrudes - onde ela poria também os seus lábios, tamanha a absorção da saliva acetinada, como só poderia ser a sua, pela madeira.

mar de rosas

acordei a cantarolar esta música e vim logo procurá-la. não fazia ideia do nome mas caçei uma parte do refrão, escrevi no google e pus a tocar no you tube. costumava ouvi-la e dançá-la, quando adolescente, com o meu pai maravilhoso - o meu pai ainda hoje dança muito, tem uma agilidade fora do comum e uma elegância corporal invejável. deve-se talvez ao facto de contrariar a casa dos sessenta porque, de facto, ele quase nunca se senta. e agora pequeno almoço bem especial - ovos e laranjas e leite e pão e fiambre e queijo - tomado, descobri que esta música, gosto mesmo é da melodia alegre, apareceu toda lampeira na minha boca logo pela manhã porque me transporta para momentos felizes. e ontem, eu tive um final de dia feliz.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

tourettados. haverá cura?

a comunicação social de um país que se concentra repetidamente - em elites azeitolas de várias estirpes, pois claro -, neste caso, na tristeza de um jogador de futebol que não comemora os golos que marca só pode andar com a síndrome de tourette.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

do nome das terras se faz riso

é admirável a criatividade, ou o acaso, (não sei bem), dos nomes das terras por este nosso Portugal fora. passei por Paramos e logo fiquei ansiosa por imaginar que a localidade seguinte se chamaria Andamos. isto porque desejava muito, em riso mental e explícito também, que, como não há duas sem três, a que se seguisse à seguinte da primeira tivesse sido baptizada de coxos.

breve explicação para o lápis invisível

consta-se que as mulheres, não todas pois claro - em tudo existe excepção -, têm dificuldades no imediatismo de distinguir a direita da esquerda. curiosamente, nos meios mais rurais esta dificuldade também se estica aos homens que substituem a indicação das direcções por um simples vira ao para cima ou vira ao para baixo, deixando o viajante com os olhos na direcção da ponta do nariz. cheguei à conclusão que este erro, e não digo falha por não se tratar de um defeito, um erro é um pequeno desacerto, tem que ver com a verdadeira essência feminina que é, por natureza, não facciosa, não discriminadora, apartidária, atemporal, atavista. há homens, por isso, mais femininos do que outros apesar de todos terem uma costela espititual de mulher. (está bem, alguns possuem apenas uma célula - são os que eu chamo de machos, não latinos, ladinos: uns mijões de gente.)

o que eu quero mesmo dizer é que estar perante uma mulher que confunde direita com a esquerda de forma espontânea é ter perante si a raça pura do feminino no que o feminino tem de melhor. eu, por exemplo, tenho de simular o jeito de pegar num lápis a escrever para acertar depois de errar - é que o erro está lá, de outra forma não precisaria pegar no lápis invisível.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

eu não: elesphoria

chama-se euphoria e intitula-se uma loja de produtos naturais.

já não os via há algum tempo e resolvi convidá-los para almoçar quando me ligaram a dizer que estavam de fim de semana no parque de campismo. chegaram contentes e com novidades: descobriram a euphoria e têm andado a experimentar os fertilizantes de plantas. despreocupados com a polícia de caça nocturna, porque a loja passa factura e tudo, preparavam-se para mais uma noite eufórica. relatam-me as sensações desta droga legalíssima: cerca de quarenta minutos depois de a ingerirem diluída em água, sentem vontade de abraçar e beijar toda a gente e com uma energia que chega a durar dois dias sem o descanso do sono. é como se tivessem mesmo sido fertilizados com aquilo que na verdade não têm - alegria. e depois, ao terceiro dia, sentem-se a morrer, corpos cansados e impotentes e cérebro inactivo. aguardam, no entanto, a próxima fertilização para se sentirem, enfim, vivos.

a alienação não deixa de ser um fenómeno social curioso: os produtores alienam-se quando se convencem que estão a fazer surgir algo diferente e legal para o mercado; os logistas alienam-se quando colocam a vender o tal algo diferente, nome alienado, que é legal e ainda por cima irá fazer as gentes sentirem-se mais legais; os compradores alienam-se com o consumo da falsa alegria; a polícia aliena-se quando revista os consumidores e se depara com a factura da droga absolutamente legal. e com alguma boa sorte, e muita alegria, ainda recebem uns beijos e uns abraços durante a operação stop. quem sabe um dia destes estas operações não poderão vir a chamar-se space-stop; quem sabe não será este fertilizante de plantas o grande motivador das actuais políticas de austeridade: serão os cortes e os aumentos decididos sempre ao terceiro dia?

domingo, 2 de setembro de 2012

o amor é como a galinha: caga ovos brancos. e é forte com'um cabrão

o branco é a cor da luz e por cá, pelo novo ocidente, é igualmente paz, calma, limpeza, ordem. e é por isso que cada vez menos as mulheres se vestem de branco para casar. casar não significa subir a um altar e atolar a pança dos convidados, troncos nus e gravatas a roçar os peitos, a cabrito e vinho; casar não é um bordel onde duas pessoas, por vontade própria, se prostituem em troca de segurança e estabilidade e cama certa; casar não é viver em mancebia sem efectivos laços. não.

casar é ter absoluta noção que a cara de um condiz com a careta do outro, de branco vestidos e - acima de tudo - de branco despidos; casar é ser três, diz-se da conta que deus fez, o eu, o tu e o nós, é ser verdade, fidelidade é verdade, é ter certeza em consciência que ele ou ela é do melhor que há porque nos enche de alegria e de amor e de tesão e sendo inverno é cobertor assim como é água fresca no verão. casar é, sim, um tratado sobre a partilha, uma ode exuberante ao dia-a-dia, uma aposta do cabrão, por ser forte e teimoso, do coração: e chame-se, sim, um conservador para que no meio dos vivos, das flores e dos bichos se exalte um brinde ao menu agri-doce que deve ser, em paixão dos dias, a paixão também sabe ser serena e tranquila, o amor.

sábado, 1 de setembro de 2012

salmão com sumo de laranja e ternura

colocar lombinhos de salmão numa frigideira anti-aderente e temperar com sal, pimenta, salsa e umas gotas de limão deixando cozinhar de ambos os lados até ficarem douradinhos. durante este tempo, espremer o sumo a três laranjas e cortar a casca em tiras bem fininhas e juntar aos lombinhos até o molho adquirir uma textura grossa e suculenta. acompanhar com batatas cozidas em ternura. hum.