sexta-feira, 30 de setembro de 2011

caridade também é...

ir a uma sex-shop escolher um kit especial para uma amiga, envergonhada, oferecer ao marido.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

se o dente está podre...

falam com espanto daquilo que nunca sentiram ou fizeram. falam como quem fala de comida sem nunca terem cortado, ao de leve, um dedo na tábua. mas falam. devia, de vez em quando, ser interdito falar tal como é interdito passar ou fumar. mas não é - e é por isso que há bocas em que os dentes apodrecem com rapidez.

ir a cheiros

é de manhã cedo ou durante o coito do sol com o mar que as praias ficam desertas de olhos e de pés. e é nessa altura que a água gelada, e salgada, espera cheirar-me a pele até aos ossos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

janelas que dormem

camadas de paixão ardente
que de fora para dentro
lambuzam os olhos
até manchar
e ficam às portas sem entrar, tal e qual o compasso sem tapete de flores
porque são assim, umas e outras, as janelas
por conta de se descansarem belas: são amor por acordar

abóborar

 quando aparece uma abóbora gigante, elas não querem - gostam de abóbora em pequenas embalagens, aos cubinhos, completamente despida para mergulhar na sopa. e quem fica com ela sou eu: carrego-a e fico sempre com vontade de a deixar em cima de uma mesa para poder olhá-la, apreciar-lhe as linhas rugosas e as curvas tortas.e assim fica alguns dias. mas como, se a culpa fosse dos meus olhos possessivos, inevitavelmente se estraga, pego-a, antes que isso aconteça, como a uma jarra de flores, escolho a faca mais afiada e começo a recortar-lhe a primeira existência:  faço-a em gomos grandes, dispo-a, separo-lhe as pevides e deixo-a prontinha para ser congelada até, a pouco e pouco, ser vitamina salgada e doce na panela. este ritual, que envolve algum tempo e disposição, aguça-me o valor que lhes dou e faz com que cada vez goste mais delas.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

teleturbar

nunca entendi, não entendo e julgo nunca vir a entender, a coisa de telefonarem ou enviarem mensagens fora de horas. entenda-se fora de horas o tempo em que um simples cabelo, se cair, me espanta o sono. de resto e como anda sempre a cair ao chão - pode ser que o telefone, se tiver alma, fique perturbado tal e qual se deixa usar para me perturbar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

trio admira - o lembrete que existe nada, o verdadeiro verbo nadar



o que têm em comum este video, um peixe num aquário e um espelho?

tudo nada - têm o nada em comum. o video mostra nada; o peixe só, nada mais faz, nada e o espelho nada reflecte a não ser o que há para reflectir.

domingo, 25 de setembro de 2011

a minha ignorância

desconhecia completamente que as minis se abrem com o clique de uma lata de atum e foi ontem, pela primeira vez, que, em clique para o meu pai, tive contacto com uma.

sábado, 24 de setembro de 2011

e se...

e se os sonhos de olhos cerrados forem frangrâncias alarmantes de futuro - do tipo sininhos secretos; privilégios de cinema sem olhos; brilhos, do sono, indicativos?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

absorver, não exibir, a beleza



existem mundos, no mundo, que nada nos dizem. olhar as joias, tantas delas, tamanhos e formas diferentes, sem fantasiar, por um segundo que fosse, um bico de decote ou um pulso ou um dedo meu com elas. reter, sim, reter os brilhos e as texturas e, sim, fantasiar uma memória descritiva para cada uma delas: fazer sínteses mentais de cada escolha realizada de cada um que a realizou como se cada uma precisasse de uma história muito antes de precisar de uma utilidade. talvez, ainda estou a pensar, considere que a arte da joalharia não pode ser confundida com fatuidade e daí o meu desapego ao desejo de enfeites estilo árvore de natal. e depois, até hoje não houve quem me soubesse explicar convenientemente, faz-me uma tremenda confusão chamar jóia a um bocado de couro com cortiça quando serão os metais e as pedras preciosas que fazem o estatuto de jóia - pela perspectiva da mistura de materiais não preciosos com os preciosos, entendo joalharia contemporânea mas apenas ao uso dos primeiros, tamanha é a grosseria, chamo-lhe multi-pechisbeque.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

e tu, com quem fodias em troca de paz no mundo?


ela propôs-se a fornicar com Saddam Hussein e Bin Laden e isso valeu-lhe uma pensão vitalícia de três mil euricos mensais. não, não estou a falar - por mais que pareça justo - da Paula Teixeira da Cruz; tampouco me refiro à miss universo até porque, está à vista, os americanos gostam mais da paz do que quaisquer outros. falo, pois claro, da Cicciolina.

(até me está a passar pela cabeça, mesmo agorinha, se não a poderiam importar para equilíbrio das contas: por exemplo, ela fornicava com o Jardim e em troca o buraco voltava a ficar encoberto por mais uns anos; à medida que fosse chupando o Passos Coelho e ela fosse crescendo, ele serenava e deixava de se masturbar com os impostos; e por aí adiante. também podia ser bem útil no combate aos crimes sexuais: oferecia-se como voluntária a favor da energia nuclear dos tarados e maníacos. e tudo por uma módica quantia de três mil euros por mês em tempos de austeridade apertada. 

e então, já estás a abrir o fecho das calças sem pensares nos cordões da bolsa, Governassos?)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

picante

falo que não são falos nem picam: são flores que nascem na noite beijadas pelos morcegos, regadas de açoite,
e piripiram os olhos no dia.

sonhos cabeçudos

parecem estátuas de chocolate mas não são: são as cores equilibristas da fruta que, sem engonho, penduram as cabeças no sonho.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

fresco de mentol para as costas

os nós ao fundo das costas são aquelas bolinhas que só sentes quando passas a mão e não há dor - mas há um desconforto imenso, aquela sensação de inflamação. pois descobri uma boa terapia: desfazer beringela a cru e colocar a papa numa meia de algodão. amarrá-la bem e afundá-la numa panela com água até imediatamente antes de começar a ferver. depois molham-se toalhas na água quente que vão sendo postas, alternadamente, na inflamação. além de um bem estar imediato, a casa fica com um cheirinho maravilhoso a fresco de mentol. verdade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

até pode parecer que não

na minha cozinha há um sofá, já foi outro mas agora é este, e nem imagino a cozinha sem sofá. mas na gaveta do armário da cozinha não há quebra-nozes. isto pode até parecer que não faz sentido mas faz: as nozes que andei no outro dia a apanhar lá estão, pacientes, à espera que eu as coma e não se importam que eu as faça feliz à martelada - mas tudo o que eu sei que elas, também sabem que eu sei, querem é descer o canal, tranquilas, por entre enchorradas, nem sei se esta palavra existe mas se não existe passa agora a existir, líquidas até repousarem, moídas pelo cansaço, no sofá.

o quebra nozes é, portanto, perfeitamente dispensável na cozinha. o sofá, as nozes são defendentes dos sofás, é que não.

sábado, 17 de setembro de 2011

bora lá fazer cartoons

se eu soubesse desenhar...

1. Merkel, uma gorda mal fodida, frustrada, a cagar - não postas - pescadas inteiras e a distribui-las pela europa;
2. Berlusconi, pénis bem erecto, a meter telefones, quilos deles, ao bolso;
3. Passos Coelho, de branco vestido, a acarinhar cada um dos seus filhos, anões, ministérios sendo que o maior dos mais pequenos está sem braços e sem pernas e a chorar muito com um plano CRI na boca;
4. Alberto João Jardim nu e cheio de dores de rabo por conta do clister- merda que saiu até fazer eco;
5. os EUA a darem banhada ao povo com balões de água onde cada balão deverá representar uma placenta de esperança.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

dar murro, ser beleza

chamam-lhe imperfeição, olhos no coração, mas eu dou um murro na mesa: de pernas para o ar, imperfeitamente perfeita, chamem-lhe como eu - chamem-lhe beleza.

olhos e ouvidos, pensantes, sentidos


ontem comprovei, para mim, que os homens quando são, e apenas, pontualmente queridos são uns traidores.

(ela continua armada em fina, e em boa (está convencida ser a mulher moderníssima que o dobrou), e ele continua a fodê-la. e às outras também. concluo, portanto, que sou uma excelente analista da política sexual contemporânea. dá cá mais cinco, Sinhã)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

mãos e pés descalços

pensando bem, andar descalça faz o mesmo efeito que fazer trabalhos manuais sem luvas: a sensação de estar em contacto com as coisas não as deixa escorregar e cair. com os pés é igual: é o sentir as bases por onde passo que me faz andar erguida.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

saxofone em silêncio não é crime

esta notícia tão ironicamente bem contada comoveu-me. e eu estou aqui, Constantino - chamo-te guardador de sopros e de sonhos -, para dizer que acredito em ti. e a ti, e a ti, e a ti, e também a ti, Sílvia, caneco, quero dizer-vos que é verdade que há bocas que tresandam a álcool sem o beberem - em criança, uma das empregadas que passou lá por casa tinha uma doença no estômago e tresandava a álcool pela medicação que tomava: não bebia senão água. acredito no amarelo e, à primeira, na Segunda. acredito em tudo, sim. acredito principalmente no abuso de autoridade e na caça às multas e na caça às vidas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

seborreia por contágio




pelo menos uma vez por ano sinto-me obrigada a procurar as mãos de profissionais de cabelos, não porque estejam estragados, para dar-lhes forma. é, no entanto, um momento de grande sacrifício e ando dias e dias a mentalizar-me que alguém desconhecido vai estar a massajar me o cabeludo e a usar nele pentes e escovas e tesouras indiferenciadas que rolam de cabeça em cabeça. é como se cada um dos utensílios carregasse uma colónia de cabelos, e talvez outras coisas, de cabeças sem identidade. e depois há o tempo de espera debaixo do zumzum do secador e das vozes tagarelas em simultâneo e do lixo das cabeças dos outros que quando é aparado salta, atrevido, para nós e faz comichão. e depois é o aspecto do cabelo das cabeleireiras que quase nunca faz jus à profissão e é pintado com a raíz a descoberto e seco e teso. enfim, todo o cenário envolvente faz caspa. mas, como já disse, pelo menos uma vez por ano obrigo-me a ter caspa. 

desta vez, porém, não foi com caspa que saí de lá. 

conversas cruzadas, há sempre uma ou outra que nos entra, mesmo sem pedirmos, no ouvido. falavam de emigração para áfrica e no quanto é difícil para um casal ficar separado - não pela saudade, não pela falta emocional, não pela interrupção espacial e temporal do projecto a dois, mas pelo risco que correm em serem encornadas com pretas. e a conversa segue: despertara, a esta altura, a minha atenção não pelo tema mas por o problema em causa ser preto (cheguei, entretanto, à conclusão que se fossem encornadas por brancas a coisa passava). vim a perceber, mais tarde, que a cabeleireira estivera emigrada uma data de anos na áfrica do sul e que era dela que a conversa tinha surgido. cabelo ainda por podar, levantei-me e vim embora quando, a certa altura, ouvi: lá não senti problema algum porque era normal mas cá, e atenção porque eu não sou racista porque tenho amigos pretos, quando vejo um preto, expressão facial de nojo, atravesso a rua.

como poderia eu colocar nas mãos de alguém assim a minha cabeça? imaginei aqueles seus pensamentos filhos da puta, terroristas, avançarem para as suas mãos. sim, porque o que pensamos extende-se a cada centímetro do corpo - nós somos criaturas inteiras.

desta vez, porém, não foi com caspa que saí de lá: foi com seborreia.

domingo, 11 de setembro de 2011

saudades à soleira

parece apenas um, mas são muitos - homens por dentro do tempo: homens que choraram e que riram, saudades à soleira subiram, nas janelas com cortinas de vento.

verdes fundos



gostava tanto de ter um telhado verde.

(saber-me com uma árvore por cima do meu tecto alimentava a minha carência de raizes e de profundidade)

sábado, 10 de setembro de 2011

a vida e o destino. ou a veia e os sovacos


há quem confunda estar apaixonado por si próprio com estar apaixonado pelo seu destino. o meu Kundera explica isso muito bem, no livro do riso e do esquecimento, mas eu também não lhe fico atrás. (nem à frente. fico, talvez, saltitona, ao seu lado visto que as pernas dele serão bem maiores do que as minhas e apenas dois passos dos meus conseguirão acompanhar um dos seus.)

dizia eu, então, que esta confusão existe quando não é o destino que faz algo pela felicidade, por todos os pilares, senão tarecos, da vida de alguém mas será esse alguém, na sua vida, que faz de tudo pelo seu destino - sente-se responsável por ele sem ele se sentir responsável por si. há, aqui, portanto, uma espécie de amor não correspondido: alguém ama um destino que não o ama a si simplesmente porque leva em consideração os pressupostos da vida desse alguém e não os pressupostos desse alguém sem vida. sim, nós existimos sem vida - se perdermos o emprego e a casa e a conta choruda perdemos a nossa vida, a dos tarecos, mas não perdemos a nossa vida enquanto vida. estou a ficar confusa. mas com convicção.

pensar, por exemplo, em basílico no destino será arranjar sovacos onde não estão - para a veia ter mesmo de por lá passar. mas não é a veia da existência - será a tal veia da vida, dos tarecos.

talvez seja mais fácil rematar, agora, e concluir que é assim que a vida se transforma em destino e que a existência passa a ser de tarecos. mas a esta altura já deturpei a visão do Kundera, já lhe retirei e acrescentei conceitos e esta vida e este destino passaram a ser conceitos só meus. como eu gosto.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

até à quinta e depois dela



a praia não é o sol; a praia é o sol e os outros: as cócegas dos grãos da pedra no mindinho e a brisa do vento fresquinho e o sal do som do mar. a praia é a onda que faz ser onda e as gotas perdidas que fazem ser gota e o vento manso e fininho que faz ser movimento e a areia que faz ser pó. e tudo por debaixo de um sol que faz ser superfície.

(se assim não fosse, sol por sol, bastaria a quinta nota a quente)

está bem, então

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

se és mulher, não vás sozinha inspeccionar a viatura

é incrivel como é completamente diferente, para uma mulher, ir sozinha fazer a inspecção do veículo ou ir acompanhada por um homem: de acordo com a segunda premissa, verifica-se e confirma-se - é mais rápido, mais objectivo e não reprova.

(penso haver, assim, uma espécie de gaytonia implicita que inibe a testosterona de se evidenciar)

ir pensar é um verbo, não são dois

esta coisa dá que pensar. vou pensar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

el's matadores

o que é que a mata mata, além dos olhos com a sua beleza?

(é que eu hoje vi dois homens, quase idosos, sairem da mata perto da praia: um apertava as calças e o cinto e meteu-se num carro e o outro seguiu o meu caminho. sairam juntos da vereda que vinha da mata mas cada um apanhou o seu rumo. será que as matas também matam outras coisas - mesmo ali, entre vivendas familiares?)

cópia gordurosa roscofe



se há governos que tencionam aumentar os impostos sobre os alimentos gordurosos, como a Hungria e a Dinamarca, para combate da obesidade e, desta feita, diminuir os gastos de saúde - outros há, como o nosso, que quererá copiar a ideia apenas para arrecadar receitas. senão vejamos a coisa numa perspectiva obesa: se o povo anda sem guito, procura almoçar ou jantar barato. e o que é que é barato? é a comida de plástico. então, o aumento dos impostos nos plásticos comestíveis só vai trazer duas coisinhas para o povo: o aumento de peso e o aligeiramento, ainda mais acentuado, dos bolsos - é que ainda continuará a ficar mais caro preparar um jantar de fritos, ao preço que anda a luz, o gás e a água, em casa. ademais - quem é dos fritos, é dos fritos e há-de morrer assado no espeto se mudar para os cozidos e grelhados.

(fazer cópias de ideias inteligentes de economias que em nadinha se equiparam à nossa é, no mínimo, de uma magreza mental colossal)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

rodas do mundo

são vidas, umas sobre rodas erguidas e outras de rodas para o ar, na vida de um mundo que vive, não pára, do pedalar.

da fórmula do provérbio sábio

fazer o luto por aquilo que já, ou nunca, tivemos é estranho. e arde. e se o que arde cura e o que aperta segura, acabei de encontrar a fórmula mágica: deixamos, de segurar, cair - começa a arder e cura.

domingo, 4 de setembro de 2011

i just write to say i love u, música

a música possui um poder incrível, inigualável, mágico. se é verdade que gostar desta ou daquela depende do estado de espírito também não o é menos que é ela que tantas vezes o condiciona. a música remete-nos para o nariz, para os olhos, para a boca, para as mãos, para a vida. e senti-la faz-nos, tantas vezes, sorrir; e senti-la faz-nos, tantas vezes, chorar. a música é, assim, uma espécie de bálsamo para a alma porque não é à toa que nos massaja memórias ou nos desperta desejos. e prolonga-se, o seu efeito, muitas vezes, pelo dia dentro ou por vários até. e depois surge outra que desmontamos até à exaustão para lhe beber o trago da alegria ou da tristeza: dissecamos a música para apurarmos emoções contidas, guardadas ou novas. musicar é tão ou mais importante do que comer ou beber ou defecar - não porque desse verbo depende a sobrevivência - por nos remeter para a essência do que será viver.

e porque viver começa por dentro do mundo do mundo, musicar é preciso.

(hoje, tenho a certeza que não foi por acaso, ouvi esta música. estava a precisar dela para recordar onde a costumava ouvir, rumo à escola na frequência da festival com o meu pai, e transportá-la, fazer a ponte, para os tempos de agora e ganhar força com o que significa ser pai e dar e ser filha e receber. e nem sequer interessa se gosto, sim: gosto muito, ou não - importa que por algum motivo me marcou. obrigada por existires, música.)

sábado, 3 de setembro de 2011

pequenas grandes preocupeixões

tomar conta de peixes é um sobressalto constante: de vez em quando eles ficam quietos, sem se mexerem, e lá vou eu saber se morreram. no outro dia dei-lhes uma goma, por ter percebido algum azedume no seu nadar, mas, depois, passei o dia preocupada com a diabetes.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

lu(z)cidez

ciclone de luz suspensa, pensa, escuridão por relatar: são os homens, pensa, que fazem das trevas os caminhos que o vento, pensa, faz clarear.

qualquer - a palavra que faz a diferença

a fidelidade está em vias de extinção - a capacidade de se ser verdadeiro e leal com quem se está, não por princípio, não por opção, não por se estar com o "não é bem isto mas é melhor que nada", por se sentir que com quem se está é com quem preenche tudo o que é estar. e perceber e sentir que até o homem que vive com a mãe de uma grande amiga, por convivência amigos também, está a mostrar e a forçar o estreitamento de relações comigo à margem da mulher com quem está - a mãe de uma amiga que é amiga também. a resolução do problema passa, obviamente com ele, por não lhe dar importância, por recusar os seus convites, por fazer de conta que esse seu interesse é apenas de carinho por afinidade. a questão desconfortável para mim, que é o que interessa, é o nojo que sinto por mentiras, por mostrar que tudo está bem, e pela sua deslealdade com ela em detrimento da sua vontade - não correspondida por sentimento, por vontade e também por opinião arraigada - comigo. quem não está bem só tem de verdadar e dispensar; é o ter de encará-los sem espontaneidade ou de encetar o distânciamento necessário para sucumbir ao fingimento. e a redoma fecha-se mais um pouco. sair de casa para alguns sítios é, cada vez mais, um perigo: não por poder ser atropelada ou roubada mas simplesmente por ser apenas mulher sem ser uma mulher qualquer.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

pénis de amor

ouvir e ver por aí, pensar, digerir, e arrotar por aqui. todo o amor que só repousa na cama é um amor doente -
o amor também é vertical, concluo. e agora, isto não estava previsto no arroto, a propósito da verticalidade, lembrei-me que
quando o amor e o sexo andam em sintonia
a imagem de uma erecção é perfeita
o amor é um pénis gigante, bem duro,
que assim se levanta e assim se deita

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

coerência humana Khadafiana

estou sim, por onde andas, tenho uma notícia terrível para te dar - nem sabes o que está a acontecer: a tua mulher e a tua filha estão a ser violadas ininterruptamente.
faz-me um favor, e aceita como uma ordem, amigo: coloca os nomes delas na lista das mulheres que faziam parte das minhas forças de segurança e fica resolvido.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

médico sádico

tenho a certeza que quem inventou o assento das bicicletas foi um médico sádico: quis assemelhar hematomas vaginais provocados por violação, que é o que se ouve relatar, às mulheres que gostam deste carro de duas rodas. cabrão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

pontes de fio

são pontes de ar, no ar, tantas vezes em assobio: sentir e atravessar, no chão, o ar pendurado por um fio.

Sinhãlismo

por acaso, e por mero acaso, gostei muito de descobrir que afinal, quando escrevo, tenho uma tendência literária: é o simbolismo.

domingo, 28 de agosto de 2011

deus pelado

brilhos, purpurinas dos olhos, apenas ao alcance dos meus - são sorrisos limpos das águas, dos céus, onde mora, pelado, deus.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

por exemplo: amas-te ao ponto de fazeres um assado só para ti?

amor de olhos com horizonte

são desertos cobertos de vida, água que sem ser bebida, descansos também do luar -são desertos de mar de gente, miragens de areia contente, entre os olhos e o horizonte: copular.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pensamento apoucado, mas pertinente, sobre uma notícia real

quando um pai faz filhos à sua filha é pai tirano ou avô voluntário?
quando não há vontade de escrever não será a mesma coisa que ter prisão de ventre - pelo contrário, será mais não apetecer fazer um clister.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

papar e a língua

contaram-me, hoje, que nos motéis existem quartos com marquesas tal e qual as das usadas em salas de ginecologia.

(terá isso relação directa com o papanicolau, sendo nicolau um sinónimo de vagina? também poderá ser um forte indício de que, confirma-se, uma Língua precisa de total abertura)

sábado, 20 de agosto de 2011

piscar de pétala

piscam as pétalas como quem descansa os olhos - para escorrerem as lágrimas doces, derramadas pelo céu, pingadas, tão serenas, aos molhos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

olhos de omega 3

se o peixe soubesse que vai para comer queria, com toda a certeza, fazer um clister e esfregar-se até sair a escama.

(é que o peixe sabe, talvez seja do omega 3, que os olhos também comem)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

conflito e negociação

os males do mundo começam sempre em casa e um bom chefe de família lá terá de ser um bom negociador de conflito - não pode ter cor e muito menos ser benfiquista.

(mas só porque o vermelho acende, porque foram treinados, os touros de morte)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

barcos em masturbação

areias gordas, são godos, que seguram as embarcações - mas não seguram as águas que vivem por dentro delas que, agitadas, são mãos a masturbarem corações.

vendeu-s

se deus precisasse de intermediários seria um mero comerciante.

domingo, 14 de agosto de 2011

verdaleta

manet gostava de violetas o que, na verdade, significa que gostava da verdade.

(violeta, mais do que impressionista, é uma cor impressionante)

a emancipação do caralho



folhear e desfolhar uma crónica da cidália, do sexo e a cidália, da cidália e a pornografia. a certa altura, e na tentativa desesperada de igualdade de géneros como argumento, ela assume consumir pornografia. bravo, não vejo mal algum, desde que se tome essa opção como individual e não como um pretexto de emancipação da mulher. isso será, sim, assumir que a pornografia é uma espécie de alforria e, em consequência, são os pénis senhores a libertarem as vaginas escravas. ora a pornografia entre pilas e pitas são sempre longas metragens de pura escravidão - se fosse a tal alforria poderia ser vista a tal vagina ser invadida por uma ou mais línguas mas não: são as pitas e as bocas e os cus delas que são invadidas por pilas, quantas mais melhor, para com essas imagens ser passada a mensagem da virilidade e do poder masculino. tudo falso: nem as erecções demoram horas ininterruptas, nem as pitas são escorregadias e, com toda a certeza saberão, digo eu a pensar nas escovas de dentes fininhas que as anorécticas usam, que uma pila enfiada até à garganta deve provocar falta de ar e principalmente o vómito. mas pronto, a cidália assume que se excita mas não sabe explicar com quê - nem responder a um namorado quando lhe fez a mesma pergunta. mas sabe dizer do seu espanto, do dele, quando lhe disse, vaidosa, que consome; mas sabe dizer do seu espanto, do dela, perante o espanto dele por não ser muito frequente uma mulher gostar de pornografia. o espanto dele é perfeitamente compreensível, ó cidália, ele não estava à espera de saber que livros é que lês e ao mesmo tempo que achas piada às lubrificações marteladas - é que pelos livros que lês ele poderá conhecer-te um pouco melhor mas pelo consumo de pornografia, que nem sequer sabes explicar o que te excita, ele fica a conhecer zerinho - a não ser a parte em que gostarás de filmes sem história e de alienar-te com a maior droga de todos os tempos. gostos são gostos e não se discutem - mas ele quis discuti-lo contigo e tu não não soubeste dizer porque gostas. serás, portanto, uma emancipada do caralho.

(apenas mais uma nota: podar árvores, que será uma outra actividade reveladora da igualdade dos géneros, não te aconselho: é que as árvores, mesmo antes de carregarem folhas e flores e frutos, carregam raízes - carregam histórias e as histórias, já te percebi bem, não vão à tua bola e nem de árvores reza a história. a tua.)



sábado, 13 de agosto de 2011

reeditar disto

na rebeldia de um céu que me esquece
a serenidade das águas fortes do rio parado

e o instante, o meu, único, selvagem perante o céu, a terra e na água, que - inversamente ao normal das gentes - não veio à superfície e assim,  durante horas, permaneceu

(nojo? nojo algum. até parecem dois polvinhos)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

queijabrão

variedade, tantos sabores por onde escolher, de queijos. existem, no entanto, alguns cujo leite, tenho a certeza, que lhes serve de base, não pode ser nem de vaca nem de cabra, só pode ser de cabrão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

civilização a ver navios

é uma língua que o lambe, olhar e não ver civilização, como se de uma boca do mar : atum a dar à costa, areias virgens, a ver navios, luz construída, ficar.

torradência

decididamente: a paciência é uma virtude.

(e quando consegues torrar, num curto espaço de tempo, a de alguém é porque a prova, de que esse alguém tem-na fraquinha, fraquinha, foi superada. paciência.)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

de passos dados

quase sempre, quando caminham, passeios na areia das férias, vão aos pares. são casais com uma particularidade comum: nunca caminham lado a lado. nos mais novos, é ele quem vai dois ou três passos à frente - suspeito que quer esconder pensamentos, como se pôr para trás fizesse mais sentido quando se fica mesmo para trás; nos mais velhos, é ela quem vai na dianteira - como se estivesse a vingar do tanto que ficou para trás. e agora, agora,  já é ela quem quer que os pensamentos dele sejam escondidos porque foram passando por detrás dela.

(passeio da história: andar de passos dados é coisa rara)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

olhos em castelo

não são janelas de pedra, ogivas com finura de luz, são olhos em castelos de sonho - olhos crescidos de menina que a onda na areia seduz.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

belgas de alento

águas de limo, que são altas e limpas, molhadas de lábios rasgados: cobrem os montes dos olhos - são belgas, alimento, que correm nas veias do alento.

torno do tempo

parece homem, o bicho; parece madeira, o cimento: parecem vesgos, os meus olhos - que vêm diminuição no aumento; parecem e são: bichos e madeira - moldados no torno do tempo.

maréu


há dias em que se vê melhor o mar - aparentemente, quase sempre a sua cor reflecte a do céu.

(mas é apenas aparência porque o mar é a extensão, em estado líquido, do céu)

domingo, 7 de agosto de 2011

véspera do outro dia

apanham boleia, na embarcação da véspera do outro dia, são três, para espreitar a lua em pelota - e ver o sol corar sem timidez: a lua fica por cima, impudorada, do horizonte que o sol fez.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

musgo do céu do dentro

não cansou: voa, pousado, no escorredor de águas e de tempo, como se voar fosse ficar - em telhados de musgo do céu do dentro.

eco

não se pode dizer que vir aqui - ou escrever daqui que não é mais do que também aqui, ou lá, ou aqui e não por aqui, com gosto, com prazer, com alegria - ainda que possam ser letras tristes, seja graforreia. graforreia é outra coisa; graforreia é uma deficiência como outra qualquer. e todo aquele que sofre de graforreia é aleijadinho - inho - inho.

(é o eco do diminutivo que faz jus à deficiência)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

pinceladas

madeixas de cor, ai que bom, ai que furor, nos vestidos do verão delas: são pinceladas, ternurinha garrida, que Deus pintou em tronco nu e em chinelas.

profissão de futuro: andar às voltas com a cultura

já sabes o que queres ser quando fores grande?
grande como? eu sei que quando tiver 21 anos quero ser motorista.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

bolha. ou bulha

devo ter dormido a correr porque acordei com bolhas nos pés. ou, então, são os dedos que bulham.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

vestido oriental

olhos que vêem sol com chá e céu de caril, são olhos em bico de cheiro e de sabor que querem rasgar o timbre da noite - e o vestido do amor.

natural

a natureza por vezes estraga os planos do povo - é como o governo.

(isto pode querer dizer que o governo é naturalmente danoso)

domingo, 31 de julho de 2011

gosto, com gosto, senhor agosto

com gosto, a rasgar o céu, vem de nuvem - nuvem à grande vitesse, vem para não ficar: muito gosto, senhor agosto, sente-se um mês, depois prossegue, gosto de vê-lo descansar.

viver, diz ele

José Maria Rodriguez Madoz, Chema Madoz. assim: preto no branco. não interessa onde estudou, não interessa quantas exposições fez nem quantos prémios ganhou - interessa, isso sim, que, para ele, a natureza morta vive. e esta estranha forma de viver sem memórias, única, transporta-nos para uma nova forma de vida: a vida para além da morte. parece hermético o que digo, mas não é - é, em bela-arte, mórbido.




sexta-feira, 29 de julho de 2011

flanar

dá para flanar em e com tudo. mas é a viver que flano melhor - e deus, que não é o dos homens mas o das pedras e dos rios e das flores, passou a ser o meu revisor - do diário de vida que vou escrevendo - de textos.

cedo de seda

a brisa passa de fininho, por entre o rasgar dos olhos e o abrir dos lábios. são assim as verdadeiras manhãs que, cedo, são de seda.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

pés felizes

quem me dera que os vidros pudessem ser apertados como os papéis - assim os pés eram sempre felizes.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

jovem rapariga evadindo-se, 1968

gosto disto, gosto muito - talvez por a evasão se fazer a partir de materiais e objectos achados e ligados que serviam de base para fundição em bronze e que o transportavam, também a mim, para as coisas que amava: os talos de erva, os insectos, as rochas, os brinquedos. curiosamente, esta "recuperação" manual de materiais aparece, perspectiva minha, como o recuperar da felicidade no sentido de fazer viver memórias e cores e formas que saem fora do espírito de um homem de setenta e cinco anos. ainda viveu mais quinze em deleite de deixar as esculturas por debaixo do tecto do céu - dizia ele que o sol, a chuva, o vento e o pó faziam-nas melhores. e é esta criancice por dentro da velhice, o que está à vista que é igual ao que estaria escondido, que me fascina.

escrevo esta escultura, para ti Miró, assim:

são as formas redondas, roliças de carne, de coxas semi-enlaçadas, de paixão vestidas, que desnudam os olhos de um mundo, só de um, que na curva seguem em frente: contornam o mundo de todos, único é o seu - ancas redondas de amor que Deus, quando falou, lhe prometeu.

entre a lembrança e a esperança há tudo o que não há

dividir o tempo em três tempos, passado, presente e futuro, é a coisa mais absurda do mundo: o tempo só é o passado - o que já foi - e o futuro - o que ainda não foi. o presente é sem tempo: o que existe por dentro do que não existe. entre a lembrança e a esperança há tudo o que não há.

(uma salva de palmas, breve, ao presente- que daqui a nada já foi o que estava para ser. breve? breve não: se as palmas forem constantes, o que é - permanece)

terça-feira, 26 de julho de 2011

doce d'açoite

é o acordar que faz manhã
que faz tarde
que faz noite
é o sorriso do sol que nos cai como doce d'açoite - enche-nos os olhos de açúcar e, ai, a pele:
a pele fica-se-nos barrada, doçura, como se de esperma de luz com mel

ponta



há quem viva em ponta delgada; há quem enfrente horas de ponta; há quem não valha a ponta de um corno; há quem não tenha ponta por onde se lhe pegue; há quem não dê ponta sem nó; há - há pontas que nunca mais acabam que não chegam à ponta do meu nariz, bem visto, à ponta que o pariu.

(e basta-me pô-la de fora da janela, na abertura das persianas do dia, para adivinhar se a praia hoje vai valer a ponta - a ponta dos lacinhos do biquini na ponta do sol que se mete na ponta da água. estou ponta.)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

melenar

a rádio local hoje escolheu-me para, assim que acordasse, brilhar. eu era tão tenrinha quando ouvia isto - e ficava tão feliz. fazia castelos altos, inderrubáveis. mais: fazia castelos compridos. e talvez tenha nascido lá esta panca de tutear as minhas melenas.

domingo, 24 de julho de 2011

a vaidade usa rugas

a vaidade de ter oitenta e quatro anos e vivê-los com alegria é surpreendentemente maravilhosa: coisa muita para poucos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

sapatos, peixe e viver



muito mais do que morrer de aborrecimento, o que está perfeitamente comprovado pelos ratos de laboratório, o que está na moda é viver de aborrecimento. eles acordam de manhã, lado a lado, não dizem, pensam: não te mexas, não respires. e durante a manhã ela pensa nos sapatos de verniz que a outra tem e que também quer ter e mal tenha os dela serão imediatamente mais giros e mais caros e mais verdadeiros do que os da outra que teve primeiro e ela gostou e foi por isso que os foi comprar, no intervalo das cinco, durante a tarde; e ele não pára de pensar na peixeira, que vê todos os dias de relance quando vai almoçar, que é gorda, e quem disse que a gordura é casaco de tesão para uma sem espinha depois de uma patanisca durante a tarde. e ao fim do dia ou ao início da noite, conforme se pensa em luz ou em escuridão, lá estão eles lado a lado, não dizem, pensam: não te mexas, não respires.

pareceu-me mesmo bem o pão fresquinho com clã

o vento tem toda a razão

o mundo anda uma valente panelona de feijoada - e depois queixam-se que o vento não pára.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

minimini história

ouvi uma mulher chamar, aflita, pelo Pascoal. percebi, entretanto, que Pascoal era o filhote - aproveitando a distracção dos pais, saiu do local onde estava.

(e eu, eu vim logo a correr para casa com ganas de bacalhau)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

a ilusão das partes

há uma coisa que se pode concluir de um bolo de laranja caseiro: para se absorver toda a vitamina das laranjas que lá se colocam tem de se comer o bolo inteiro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

lucidez

"é o olho do cu o mais miraculoso em que se concentra toda a energia nuclear da nudez." Milan Kundera

barbas desfeitas de amor



por estes dias, à porta do Feira Nova que agora é Pingo Doce, um homem pediu-me dinheiro, nada de anormal portanto, e eu olhei para ele e vi qualquer coisa que não sabia explicar - como se ele tivesse alguma coisa para me contar e eu para ouvir. foi então que pousei tudo, sentei-me no banco do condutor, porta aberta e ele no lado de fora, e enquanto fazia sandes mistas e abria um sumo para lhe dar, disse-lhe: dinheiro não dou mas estou a preparar-te um farnel e em troca quero uma história. (hoje tenho a impressão que foram as barbas sujas e os olhos aguados que me fizeram distingui-lo dos outros) o homem ficou envergonhado, não pela minha proposta mas por parecer que  tinha uma história para contar há tanto tempo, uma história no prelo do alívio, que ninguém queria ouvir. mas queria contar muito mais do que queria comer. e assentiu. ao mesmo tempo que iniciava o farnel, libertava a sua história. tinha sido há muitos anos que conheceu a mulher com quem casou e que, até aquele dia, amou. tinha, igualmente, sido por aquela mulher que, para a defender, se envolveu numa luta que saiu torta e mesmo sem querer matar, matou. e foi condenado e preso e foi feito triste. a mulher por quem nunca pensou estar disposto a matar pelo simples facto de não querer ficar sem ela abandonou-o com simplicidade: deixou de visitá-lo e não esperou por ele - arranjou outro; as barbas, entretanto, foram crescendo como se tranças do tempo nele parado; os olhos foram ficando cada vez mais tristes, com águas mornas cada vez mais frias. mas, naquele dia, naquele dia a história que ele queria contar e que eu quis ouvir saiu do prelo, cumpriu-se. e num outro dia, lá estava ele - mas de barba cortada e olhos bem abertos - a perceber, aos poucos, que o amor só vale  a pena perante almas que não são pequenas de amar - perante corações que não são minguados de dar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

não te passes - passa-te ao lado

se tiveres, na tua vida, conhecido alguém do pior tens de ficar contente por ter sido o melhor que te aconteceu: conhecer o pior cheiro faz-te perceber o melhor dos aromas. e, depois, tudo o que cheira mal, a malina, passa-te ao lado.


vamos celebrar:

domingo, 17 de julho de 2011




estou confusa: o povo diz que melancia é água fria e os cientistas dizem que quando se come melancia há um relaxamento dos vasos sanguíneos através da citrulina - a mesma substância que é convertida em arginina e utilizada no viagra. 

na minha modesta opinião os hipermercados, pomares, e vendedores de beira de estrada deveriam apelar ao consumo de melancia - e até apostar no desencaroçar: pronta a comer - colocando o seguinte slogan:
 "seja comilão, se precisa de erecção. coma melancia e esqueça a água fria". é que as coisas do povo andam a foder o povo que quer foder. e, depois, o consumo de melancia faria disparar a procura. quem sabe não está na melancia a solução para o equilíbrio das contas? - até poderiamos passar as palhetas, na produção, à Espanha. e mais - se pensarmos que a erecção pode ser igualmente intelectual, era ver o poder de decisão completamente activo e tesudo.

(ainda vão a tempo do festival da melancia no ladoeiro. esquece lá o sonho da melancia de 50Kg, António Galante, e aposta na melancia, aos cubos, pronta a comer, sem caroço. conselho de Sinhã)



purpurinas de sem muro

é o porto mais seguro, a casa do seu monte: nem as janelas e as portam se fecham; nem os tectos tímidos escondem estrelas; nem os verdes parados páram de crescer - a casa do monte é o porto, seguro, das purpurinas dos olhos que vivem sem muro.