quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Emprego: dedicação proporcional, de dois sentidos, materializada em valor pecuniário

Emprego, desemprego, quase-emprego, estigma impregnado. Sim, eu sei, é nas alturas difíceis que damos conta das palavras - o que significam e o que valem. Podemos até dizer que se abre um dicionário a cada momento difícil da vida. Duvida?

Emprego começa na mentalidade do indivíduo

Emprego e emprego de palavras. Comecemos por analisar as mentalidades na lógica do empregador perfeito: aquele que quer dar emprego - dar oportunidade a alguém para se dedicar durante um número de horas determinado a uma ou várias tarefas - quer obter como resultado, isso mesmo, dedicação à qual atribui valor pecuniário. Na mentalidade lógica do empregado perfeito este último quer dar igualmente - dar a dedicação imprescindível à(s) tarefa(s) que lhe são atribuídas pelo empregador mediante um valor remunerativo, o tal apuro que é dedicação do empregador. Mas o que acontece na realidade, e sem perfeição, é que tanto o empregador como o empregado entram em uma espiral - não de dar - de receber. De receber dinheiro sem dedicação e, desta feita, valor - merecimento, talento - associado. E o emprego torna-se, assim, em um negócio, uma transacção meramente comercial.

A esta altura, já abriu o dicionário?

Às tantas ainda não: está farto de ouvir falar em (des)emprego e toda a gente sabe o que é desemprego - desemprego é o parente mais próximo ou o primo mais afastado ou o vizinho do 4º direito ou o amigo de infância que toda a gente tem. Mas e se o desemprego for você, já está com vontade agora de vestir e despir palavras? Vamos ver as coisas assim: você anda à procura de uma empresa à qual se quer dedicar e não há quem queira deixá-lo dedicar-se. Isto, sem dúvida, torna o assunto mais leve de carregar mas mais pesado de digerir porque enfatiza precisamente o fundo da questão do emprego e do desemprego. Nos nossos dias, nestes em que eu e você vivemos, o valor está fora de moda e é descartável. O dinheiro não. O dinheiro apresenta-se como o mais importante de tudo e mais que todos. Por exemplo as situações de quase-emprego, que são aquelas em que o empregador se sente tentado em deixar alguém dedicar-se mas ao mesmo tempo lembra-se de que a dedicação tem também - em termos profissionais - um valor numérico associado exigível pelo quase-empregado, o processo aborta: aborta porque o quase - empregado lembra-se que precisa de comer e de pagar as contas, que o empregador esquece, do viver. E andamos, estigma impregnado de lógica imperfeita de puré, nisto.

Passe-vite: a realidade do emprego passada

Como se a realidade do emprego fosse, e é, passada a passe-vite de euros cerca de um milhão de pessoas é obrigado a odiar o dicionário por conta de o viver não esperar. Porque o viver também morre sem o pragmatismo dos euros na significância do dicionário. (Não deixa de ser uma bela de uma tristeza verdadeira, isso não.) Então e o governo pestilento do Coelho e as variantes endógenas e exógenas à economia? Não quero, não me apetece falar disso porque estou cansada de ser obrigada a cheirar merda. Apetece-me inserir o (des)emprego na lógica do dicionário, já disse. E consolar-me, dedicada, a ver a minha dedicação a ficar.

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