quinta-feira, 4 de julho de 2013

a namorada do meu pai é uma ogre

cheguei a pensar, um dia, que ela seria diferente. e ao dizer diferente não quero dizer especial. não. ser especial já é muita fruta boa. diferente no sentido de o que considero normal para quem está em uma relação amorosa há muito tempo. cheguei, no entanto, à conclusão de que as mulheres e os homens estão cada vez mais iguais e sem idade no que concerne ao outro: querem passear e copular e pouco mais. e aos sessenta continuam a querer passear para ver se conseguem copular mais. aos setenta talvez queiram passear menos um pouco para conseguirem copular um pouquito mais mas vai dar ao mesmo: já se perdeu, ou vai se perdendo, vá, para não estar a acabar de vez com a esperança, aquela magia que traz o compromisso do sentir, do querer bem, do dormir melhor se o outro está mais feliz; aquela coisa da refeição cheia de poesia, bem confeccionada que alimenta o corpo que faz o amor, então, deu lugar à massa de atum e cogumelos enlatados; aquela coisa da conquista diária, do tu és valioso e por isso quero cuidar-te e estimar-te deve andar no cesto da roupa suja impregnado de meias enchulezadas. enfim. cheguei a pensar, um dia, que a namorada do meu pai seria diferente das outras que já teve, não especial, mais normal. mas hoje sei que a namorada do meu pai, a minha mãe há-de concordar comigo porque o amou até à morte, é uma ogre.

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