sábado, 6 de abril de 2013

chocada, diz ela

pede-lhe que saia de casa porque quer estar, estar é zimbrar; saltar à espinha; coçar a micose das pudendas, com a namorada. mas não é assim um pedido directo nem informal nem corado - não. é daqueles pedidos mascarados de ordem, a pretexto de falta de percebas dela, de palavras mal amanhadas que soaram mal. vamos lá ver, não soaram mal pela resolução do assunto em questão - não. soaram mal por serem contornionistas e secas e vestidas do que se quer nu. e ela ficou chocada, pois claro, arranjou-se à pressa e ligou a um punhado de amigas a ver se estavam disponíveis para almoçar - não esquecer que o sábado de manhã é aquele dia em que as esposas e as mães convencionais limpam as casas e mandam os maridos arrumar as garagens ou fazer puzzles com os filhos - e não estavam. depois lá uma se afeiçoou ao choque dela e a recolheu para umas boas horas de frete - frete porque não é fácil andar de aspirador na mão ao mesmo tempo que prestar atenção. e depois, já de tarde, quando chegou a casa viu a persiana fechada e resolveu aguardar à porta, na rua, expectante por algum sinal que lhe indicasse se o momento para entrar em sua casa seria oportuno. entretanto, desde a manhã até quase ao final do dia, houve cinema forçado, visita forçada a uma amiga e desfolhar forçado de livros. houve, enfim, uma vontade enorme, imensa, de que tudo fosse como antes: como era antes de não ser dona do seu nariz. 
chocada, diz ela. ela que, afinal, sou eu.

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