quarta-feira, 10 de abril de 2013

a propósito de uma notícia

que raio de máquina pode entrar em uma cozinha sem ser para lavar a roupa, ou a louça, refrescar ou congelar, fazer os sólidos passarem a líquidos ou até aquecer rapidamente? é uma pergunta estúpida na modernidade, eu sei, visto que são poucos os que vêm, e fazem, da cozinha um encanto. cada vez mais a repulsa pelas cebolas e pelo peixe a amanhar é maior - será, até, uma questão de imperialismo das mãos e do cérebro relativamente aos tachos e às facas e às miudezas de perícia, um caminho interdito à inteligência. 

e as mulheres são as primeiras a saírem para a rua a reclamarem pré-cozinhados e já-confeccionados e, imagine-se, a tal máquina, o raio da máquina que se chama bimby. bimby, veja-se lá isto, o caralho da máquina chama-se bimby, podia ter sido bambi - tamanha a ternura que inspira às mãos e cérebros imperialistas de facilidade e rapidez -, mas é bimby. e é vê-las gaiteiras e orgulhosas da criada rápida e eficiente: duas colheres disto, um vaso cheio daquilo e depois quando estiver apita. uma miséria de cuspir mesmo no prato onde de seguida os vão, os resquícios da bimby,  comer. tudo se perde nessas cozinhas: perde-se a alquimia, a criatividade, o cheiro, o talento dos dedos. perde-se a magia que é transformar e recriar. perde-se, enfim, a sedução dos alimentos que querem, sim, ser seduzidos. perde-se tudo - até a vergonha de se ser incapaz de assumir que as mãos e os cérebros imperialistas de facilidade e rapidez são bimbys: uma colher certa disto e mais outra daquilo só pode mesmo resultar nisto.

valha-nos a música que é para beber até esquecer.



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