terça-feira, 23 de abril de 2013

a camélia cor-de-rosa



The Pink Camellia - Pierre-Georges Jeanniot (1897)

o livro estava em branco. pálidas eram as folhas quando se sentou, cedinho pela manhã, no sofá dos berloques, coberto de branca manta por o seu corpo assim exigir, e logo se predispôs a deitar-se no sorriso descontido das almofadas que reclamavam o aconchego do branco. isto, claro, depois de enrolar o fino e comprido naco de pelo em jeito de picho e colocá-la bem lá no alto, como se quisesse - e quis - dar um salto, a camélia carregadamente rosada, mais uma, que todos os dias colhia fresca para viver.

e hoje era o dia de se ler de amores. logo na primeira página o livro leu-a, e por isso escreveu-a, assim: nas pernas abertas do teu olhar secam-se os rios que por ti passam. mas não desistas de amar - antes não insistas no seu jorrar. e ali ficou. parada naquela primeira página do, literalmente, seu livro. sorriu enquanto absorvia, enquanto se absorvia. desviou um pouco mais a coxa obediente por debaixo da maciez do cetim e adormeceu. agora sim, podia passar para a segunda página mal voltasse a nascer depois daquela pequena morte tranquila e feliz.

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