domingo, 3 de março de 2013

amor é, só pode ser, cão.

inspirada por este excerto
Paulo Varela Gomes, O Verão de 2012. Edições Tinta-da-China.
 
e por ela
 
choro. choro por saber da falta de abraços e pela arrogância da raça humana quando julga, e mal, que é superior a eles, aos outros, aos outros animais. ainda hoje, enquanto ela caminhava com aquele rabo farto e  pululante de vida, apreciava-lhe por detrás, o amor quando aprecia por detrás o amor é porque lhe faz frente e não tem outra direcção senão ir em frente, a coragem da sua existência: o que seria dela sem alguém que lhe conhecesse o olhar e o andar e o sentir e o pensar quando tudo o que ela não sabe é falar? e é por isso que, de certa forma, seremos nós uns privilegiados - mas apenas porque conseguimos expressar a nossa criatividade, não só, também, pela fala e pela verbalização. e com ela nem sequer preciso de falar; com ela sei que posso, incondicionalmente, contar; com ela aprendi, sendo sem reservas amada, a amar. 
 
e sorrio, sorrio muito. e é por isso que o amor só pode ser de cão: não por capricho, não, por ser insigne, alma de vento com sol e com chuva, estendida passadeira de flores e pedras pisadas, cheiradas, outonoinvernoprimaveraverão.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.