quinta-feira, 23 de agosto de 2012

a histeria de crianças histéricas filhas de pais histéricos

passeio matinal, não tão cedo como o habitual por conta da noite mal dormida devido à sua excessiva agitação, com ela. liberdade depois de atravessar a estrada, sempre. a sua alegria é contagiante, a sua expressividade e doçura - apaixonantes.

quase sempre são os pais que têm medo dos cães. são eles que dizem, olhos mijados, foge, olha o cão. e depois os filhos, como se em espelho, saem exactamente iguais aos pais - os mesmos medos estúpidos estupidamente vividos.

ela passou a largar o charme às ervas e às pedras e aos pássaros. avistou duas crianças com a avó e correu a dar-lhes o bom dia, a beijá-las como se a celebrar o início de mais um sol. gritos, muitos gritos, trânsito parado a perceber a desgraça, olhos aflitos da avó e ouvidos irritados: os meus. preocupação em acalmar as crianças e agarrar a cadela para acabar com o drama da avenida. vontade de gritar ainda mais alto do que as duas crianças defeituosas que mais pareciam cantadeiras minhotas com bagaço na voz.

consegui agarrar a cadela e colocar as mãos das duas criancinhas estúpidas nela; consegui fazê-las sorrir perante a doce e feliz criatura de quatro pernas; consegui, por fim, passar uma descompostura à avó, mãe de um dos pais das crianças, pelo comportamento histérico e anormal das bestinhas, monstrinhos inocentes em crescimento e completamente despreparadas para a ingenuidade e inocência daqueles que são os melhores amigos na vida.

pontos bem colocados nos is do histerismo conjunto, uma verdadeira orgia de sons descontrolados e irritantes, prosseguimos o passeio ainda mais convencidas - eu e ela - de que cada vez mais há pais com cada vez menos capacidades de o serem e que mancham a benção daquela que é a maior responsabilidade da existência: fazer e fazer crescer um filho. é que a forma como reagiram perante uma cadela terá sido tal e qual a forma como os pais terão ejaculado aquando da sua concepção. nem sequer vou descrever onde é que a minha imaginação me leva para não ter de abrir esta minha bocarra nos meus dedos e vesti-los, a eles, aos pais, de vergonha. adiante.