quarta-feira, 31 de agosto de 2011

coerência humana Khadafiana

estou sim, por onde andas, tenho uma notícia terrível para te dar - nem sabes o que está a acontecer: a tua mulher e a tua filha estão a ser violadas ininterruptamente.
faz-me um favor, e aceita como uma ordem, amigo: coloca os nomes delas na lista das mulheres que faziam parte das minhas forças de segurança e fica resolvido.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

médico sádico

tenho a certeza que quem inventou o assento das bicicletas foi um médico sádico: quis assemelhar hematomas vaginais provocados por violação, que é o que se ouve relatar, às mulheres que gostam deste carro de duas rodas. cabrão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

pontes de fio

são pontes de ar, no ar, tantas vezes em assobio: sentir e atravessar, no chão, o ar pendurado por um fio.

Sinhãlismo

por acaso, e por mero acaso, gostei muito de descobrir que afinal, quando escrevo, tenho uma tendência literária: é o simbolismo.

domingo, 28 de agosto de 2011

deus pelado

brilhos, purpurinas dos olhos, apenas ao alcance dos meus - são sorrisos limpos das águas, dos céus, onde mora, pelado, deus.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

por exemplo: amas-te ao ponto de fazeres um assado só para ti?

amor de olhos com horizonte

são desertos cobertos de vida, água que sem ser bebida, descansos também do luar -são desertos de mar de gente, miragens de areia contente, entre os olhos e o horizonte: copular.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pensamento apoucado, mas pertinente, sobre uma notícia real

quando um pai faz filhos à sua filha é pai tirano ou avô voluntário?
quando não há vontade de escrever não será a mesma coisa que ter prisão de ventre - pelo contrário, será mais não apetecer fazer um clister.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

papar e a língua

contaram-me, hoje, que nos motéis existem quartos com marquesas tal e qual as das usadas em salas de ginecologia.

(terá isso relação directa com o papanicolau, sendo nicolau um sinónimo de vagina? também poderá ser um forte indício de que, confirma-se, uma Língua precisa de total abertura)

sábado, 20 de agosto de 2011

piscar de pétala

piscam as pétalas como quem descansa os olhos - para escorrerem as lágrimas doces, derramadas pelo céu, pingadas, tão serenas, aos molhos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

olhos de omega 3

se o peixe soubesse que vai para comer queria, com toda a certeza, fazer um clister e esfregar-se até sair a escama.

(é que o peixe sabe, talvez seja do omega 3, que os olhos também comem)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

conflito e negociação

os males do mundo começam sempre em casa e um bom chefe de família lá terá de ser um bom negociador de conflito - não pode ter cor e muito menos ser benfiquista.

(mas só porque o vermelho acende, porque foram treinados, os touros de morte)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

barcos em masturbação

areias gordas, são godos, que seguram as embarcações - mas não seguram as águas que vivem por dentro delas que, agitadas, são mãos a masturbarem corações.

vendeu-s

se deus precisasse de intermediários seria um mero comerciante.

domingo, 14 de agosto de 2011

verdaleta

manet gostava de violetas o que, na verdade, significa que gostava da verdade.

(violeta, mais do que impressionista, é uma cor impressionante)

a emancipação do caralho



folhear e desfolhar uma crónica da cidália, do sexo e a cidália, da cidália e a pornografia. a certa altura, e na tentativa desesperada de igualdade de géneros como argumento, ela assume consumir pornografia. bravo, não vejo mal algum, desde que se tome essa opção como individual e não como um pretexto de emancipação da mulher. isso será, sim, assumir que a pornografia é uma espécie de alforria e, em consequência, são os pénis senhores a libertarem as vaginas escravas. ora a pornografia entre pilas e pitas são sempre longas metragens de pura escravidão - se fosse a tal alforria poderia ser vista a tal vagina ser invadida por uma ou mais línguas mas não: são as pitas e as bocas e os cus delas que são invadidas por pilas, quantas mais melhor, para com essas imagens ser passada a mensagem da virilidade e do poder masculino. tudo falso: nem as erecções demoram horas ininterruptas, nem as pitas são escorregadias e, com toda a certeza saberão, digo eu a pensar nas escovas de dentes fininhas que as anorécticas usam, que uma pila enfiada até à garganta deve provocar falta de ar e principalmente o vómito. mas pronto, a cidália assume que se excita mas não sabe explicar com quê - nem responder a um namorado quando lhe fez a mesma pergunta. mas sabe dizer do seu espanto, do dele, quando lhe disse, vaidosa, que consome; mas sabe dizer do seu espanto, do dela, perante o espanto dele por não ser muito frequente uma mulher gostar de pornografia. o espanto dele é perfeitamente compreensível, ó cidália, ele não estava à espera de saber que livros é que lês e ao mesmo tempo que achas piada às lubrificações marteladas - é que pelos livros que lês ele poderá conhecer-te um pouco melhor mas pelo consumo de pornografia, que nem sequer sabes explicar o que te excita, ele fica a conhecer zerinho - a não ser a parte em que gostarás de filmes sem história e de alienar-te com a maior droga de todos os tempos. gostos são gostos e não se discutem - mas ele quis discuti-lo contigo e tu não não soubeste dizer porque gostas. serás, portanto, uma emancipada do caralho.

(apenas mais uma nota: podar árvores, que será uma outra actividade reveladora da igualdade dos géneros, não te aconselho: é que as árvores, mesmo antes de carregarem folhas e flores e frutos, carregam raízes - carregam histórias e as histórias, já te percebi bem, não vão à tua bola e nem de árvores reza a história. a tua.)



sábado, 13 de agosto de 2011

reeditar disto

na rebeldia de um céu que me esquece
a serenidade das águas fortes do rio parado

e o instante, o meu, único, selvagem perante o céu, a terra e na água, que - inversamente ao normal das gentes - não veio à superfície e assim,  durante horas, permaneceu

(nojo? nojo algum. até parecem dois polvinhos)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

queijabrão

variedade, tantos sabores por onde escolher, de queijos. existem, no entanto, alguns cujo leite, tenho a certeza, que lhes serve de base, não pode ser nem de vaca nem de cabra, só pode ser de cabrão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

civilização a ver navios

é uma língua que o lambe, olhar e não ver civilização, como se de uma boca do mar : atum a dar à costa, areias virgens, a ver navios, luz construída, ficar.

torradência

decididamente: a paciência é uma virtude.

(e quando consegues torrar, num curto espaço de tempo, a de alguém é porque a prova, de que esse alguém tem-na fraquinha, fraquinha, foi superada. paciência.)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

de passos dados

quase sempre, quando caminham, passeios na areia das férias, vão aos pares. são casais com uma particularidade comum: nunca caminham lado a lado. nos mais novos, é ele quem vai dois ou três passos à frente - suspeito que quer esconder pensamentos, como se pôr para trás fizesse mais sentido quando se fica mesmo para trás; nos mais velhos, é ela quem vai na dianteira - como se estivesse a vingar do tanto que ficou para trás. e agora, agora,  já é ela quem quer que os pensamentos dele sejam escondidos porque foram passando por detrás dela.

(passeio da história: andar de passos dados é coisa rara)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

olhos em castelo

não são janelas de pedra, ogivas com finura de luz, são olhos em castelos de sonho - olhos crescidos de menina que a onda na areia seduz.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

belgas de alento

águas de limo, que são altas e limpas, molhadas de lábios rasgados: cobrem os montes dos olhos - são belgas, alimento, que correm nas veias do alento.

torno do tempo

parece homem, o bicho; parece madeira, o cimento: parecem vesgos, os meus olhos - que vêm diminuição no aumento; parecem e são: bichos e madeira - moldados no torno do tempo.

maréu


há dias em que se vê melhor o mar - aparentemente, quase sempre a sua cor reflecte a do céu.

(mas é apenas aparência porque o mar é a extensão, em estado líquido, do céu)

domingo, 7 de agosto de 2011

véspera do outro dia

apanham boleia, na embarcação da véspera do outro dia, são três, para espreitar a lua em pelota - e ver o sol corar sem timidez: a lua fica por cima, impudorada, do horizonte que o sol fez.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

musgo do céu do dentro

não cansou: voa, pousado, no escorredor de águas e de tempo, como se voar fosse ficar - em telhados de musgo do céu do dentro.

eco

não se pode dizer que vir aqui - ou escrever daqui que não é mais do que também aqui, ou lá, ou aqui e não por aqui, com gosto, com prazer, com alegria - ainda que possam ser letras tristes, seja graforreia. graforreia é outra coisa; graforreia é uma deficiência como outra qualquer. e todo aquele que sofre de graforreia é aleijadinho - inho - inho.

(é o eco do diminutivo que faz jus à deficiência)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

pinceladas

madeixas de cor, ai que bom, ai que furor, nos vestidos do verão delas: são pinceladas, ternurinha garrida, que Deus pintou em tronco nu e em chinelas.

profissão de futuro: andar às voltas com a cultura

já sabes o que queres ser quando fores grande?
grande como? eu sei que quando tiver 21 anos quero ser motorista.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

bolha. ou bulha

devo ter dormido a correr porque acordei com bolhas nos pés. ou, então, são os dedos que bulham.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

vestido oriental

olhos que vêem sol com chá e céu de caril, são olhos em bico de cheiro e de sabor que querem rasgar o timbre da noite - e o vestido do amor.

natural

a natureza por vezes estraga os planos do povo - é como o governo.

(isto pode querer dizer que o governo é naturalmente danoso)