segunda-feira, 31 de outubro de 2011

trincheira

não interessa nada que ele seja bipolar. gosta de ouvir música e ela não deixa porque é barulho a mais e até nem há rádio nem gira -discos lá em casa; gosta de desenhar pássaros, até já me trouxe um desenho às escondidas, mas ela diz que é uma perda de tempo; gosta de ler, na língua mãe, mas ela chama-lhe tolo por andar com poesia em francês. penso muitas vezes chamar uma guerra fria a isto que é o eles mas, depois, mudo de ideias e só me consola, em desconsolo, chamar guerra das trincheiras. ele sabe que sem ela não existe, trinta anos a amparar-lhe as crises, apenas porque com ela só vai, entre um aqui e um ali, existindo. sem ela morria-se-lhe o corpo e com ela vai-se-lhe morrendo a alma. já a baptizei. ela é a veladora oficial, em trincheira de morte, da sua vida.