quarta-feira, 27 de julho de 2011

jovem rapariga evadindo-se, 1968

gosto disto, gosto muito - talvez por a evasão se fazer a partir de materiais e objectos achados e ligados que serviam de base para fundição em bronze e que o transportavam, também a mim, para as coisas que amava: os talos de erva, os insectos, as rochas, os brinquedos. curiosamente, esta "recuperação" manual de materiais aparece, perspectiva minha, como o recuperar da felicidade no sentido de fazer viver memórias e cores e formas que saem fora do espírito de um homem de setenta e cinco anos. ainda viveu mais quinze em deleite de deixar as esculturas por debaixo do tecto do céu - dizia ele que o sol, a chuva, o vento e o pó faziam-nas melhores. e é esta criancice por dentro da velhice, o que está à vista que é igual ao que estaria escondido, que me fascina.

escrevo esta escultura, para ti Miró, assim:

são as formas redondas, roliças de carne, de coxas semi-enlaçadas, de paixão vestidas, que desnudam os olhos de um mundo, só de um, que na curva seguem em frente: contornam o mundo de todos, único é o seu - ancas redondas de amor que Deus, quando falou, lhe prometeu.

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